carta amarela #49 – meu último dia em Paris
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Moeda, 15 de fevereiro de 2013
Queridos amigos,
Era meu último dia em Paris. Acordei ansioso. Beijou-me com gosto de café e foi trabalhar. Fiz mentalmente uma lista do que queria fazer, do que queria ver. Cronometrei cada passo pra ver se daria tempo de tudo. Saí logo cedo pra comprar um croissant na padaria da esquina de baixo. Dei uma mordida, e junto dela, muitas sensações de cada mordida dada pelo ano que se passou.
Encontraria meus amigos poucas horas depois, mas tinha coisas a fazer sozinho. Decidi descer pros lados da Bastille. E de repente dei de cara com o Marché d’Aligre. Aquele lugar, lugar de um mágico domingo de outrora, me trouxe ainda mais recordações. Queijos. Temperos. Pães. Frutas. Carnes. Mel. Tudo desarranjado na mais perfeita desorganização. Natural. Vivo!
Esqueci qualquer plano que fizera uma hora antes. Comprei uma porçãozinha de groselhas, fora de época, eu sei. Continuei caminhando vagarosamente naquele dia um pouco menos frio que os anteriores.
Encontrei meus amigos. Caminhamos rindo até um antigo restaurante francês. Como sempre, um restaurante bem francês. Apertadinho. O garçon tem que puxar a mesa pra você entrar. Sair? Nem pensar. Fiquei ali, entre conversas e risos observando o puxa e empurra de mesas pros clientes sentarem. Empurra e puxa, pra irem ao banheiro. E assim é a dança nos restaurantes franceses.
Ali, comemos escargots. Cuisse de coelho. Lembramos de outros amigos que passaram ali esse ano. Rimos vinho. Bebemos histórias. Lembramos da primavera tão incrível. E resolvemos andar de ônibus pela cidade. Um ônibus cheio, e os três apertados ali. Abriu um raio de sol no céu. E eu sorri.
Atravessamos a Île Saint Louis de ônibus. Atravessamos o Seine. Compramos doces na Pâtisserie de Rêves e caminhamos um pouco pela Rive Gauche.
Despedi-me dos meus amigos. Demos uma choradinha, assim, pra abrir o apetite de se rever em breve. Deitei na minha cama e esperei o beijo de boa noite, seguido de um je t’aime. Não precisava de mais nada da França. Só o simples. O croissant, as groselhas, a dança das pequenas mesas, as risadas, os amigos, os doces, o beijo. E o je t’aime.
Gui
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