carta amarela #46 – coração de pâte à choux

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Paris, 15 de janeiro de 2013

Queridos amigos,

A sensação da partida é muito forte. Mas, mesmo com os olhos marejados por dizer au revoir, tenho me sentido muito feliz com tantos presentes que tenho ganhado nos últimos dias.

Ganhei um livro, vindo diretamente do Brasil, com dedicatória do autor, tão querido. Ganhei uma cartinha verde, cheia de esperanças de um caminho tão verde quanto o que eu morei nesses meses.

Ganhei uma música tocada ao vivo do outro lado do telefone, milhas distantes. Ganhei cafés da manhã tipicamente franceses cobertos por french kisses. Ganhei três segredos, contados por amigos diferentes, em três dias seguidos.

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Ganhei palavras de um amigo que não vejo nem converso há um tempão, com promessas de ‘vamos nos escrever toda semana?’. Ganhei um e-mail escrito no meio da madrugada, com palavras duras e tristes.

Ganhei um perdão. Ainda erro. E muito.

Ganhei um sorriso e um merci de uma mulher com fome nas escadas do metrô, quando eu resolvi dar a ela a metade do sanduíche que eu então comia. Ganhei sorrisos. Ah, muitos.

Ganhei céu bem azul num dia londrino bem frio. Ganhei um novo amigo. Ganhei muitos olhares estranhos quando eu chorei compulsivamente na exposição Hollywood Costume no museu V&A. Meus olhos brilharam com o vestido esmeralda de Atonement. Me assustei com o tamanho de Darth Vader. Tive vontade de abraçar Madame Streep em Out of Africa. E me emocionei com a camisa do Jack de Brokeback Mountain ao lado de um lindo depoimento do Heath Ledger. Um amor que nunca vai envelhecer.

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Ganhei reconhecimento. Ganhei calafrios vendo o discurso da Jodie Foster as 4 AM, horário de Paris. Ganhei um abraço demorado de um bom amigo. E um je t’aime cheio de lágrimas seguido de um tu me manqueras toujours. E quando achei que nada mais tinha a ganhar, ganhei floquinhos gelados no nariz ao sair de casa. Que em 5 minutos transformaram meu casaco em um tapete branquinho. E o caminho verde também.

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Me senti feliz por ganhar tudo. E triste por ainda dar tão pouco. O quão sortudo sou por ter algo que faz o ‘dizer adeus’ tão difícil? Taí, mais um presente que me foi concedido.

Um grande abraço cheio de palavras, é o que posso dar por hora.

Gui

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