carta amarela #37 – é cedo

Paris, 9 de outubro de 2012

Querido amigo,

Ainda me lembro daquele domingo, 5 de fevereiro. Eu tinha acabado de chegar aqui e tinha te visto, sei lá, umas quatro vezes na vida até então. Fazia muito frio. Sentamos no Sesame, tomamos um café, margeamos um Canal Saint-Martin completamente congelado. Lembra que tinha até uma televisão derrubada em cima do gelo?

Fomos ao Rosa Bonheur pela primeira vez desde que cheguei. Chegando lá cruzamos com uma pessoa que permeou alguns momentos dos nossos meses em Paris. Ela sorriu pra gente, olhou pra você, olhou pra mim, olhou de novo pra você e pra mim novamente. E perguntou: “Vocês são irmãos?” E você mesmo respondeu: “Sim.”

Você sempre teve essa coisa de cuidar dos seus queridos como um pai. E na minha falta de família presente, você foi sim, junto a outros amigos, minha família aqui. Foi você quem viu que por mais forte que eu pareça ser, sou muito vulnerável. Foi você quem mais me abraçou. Quem segurou minha cabeça nas várias vezes que chorei tresloucadamente. E quem estava ali de taças levantadas pra celebrar minhas conquistas também. Foi você quem ficou uma hora na chuva tentando pegar um taxi enquanto eu segurava meu cotovelo quebrado debaixo da marquise. Foi você quem vinha com aquele sorriso safado e duas cervejas na mão pra gente ‘começar o dia’. Foi você quem me deu um estoque de Dorflex quando eu reclamava das dores musculares dos meus intensos dias na cozinha. Foi você quem me ligava todos os dias pra saber como eu estava e falar qualquer bobagem do que aconteceu no dia. Foi você quem me chamou de amendoim.

Sei que não é uma real despedida pois vamos estar de alguma forma um com o outro, mas ao mesmo tempo me entristece pensar que nossos dias juntos em Paris se acabaram. Mas esse tempo guardará algumas das minhas melhores lembranças.

E agora, a cada vez que eu encontrar Dalonda no Rosa, sei que ela vai me perguntar: “Como vai o seu irmão?”. E eu responderei: “Ele vai bem, porque a felicidade sempre anda ao lado dele.”

Um grande abraço, vermelho como o chambre rouge, verde como a rua em que moramos, amarelo como nossa cor preferida, azul como o céu de Paris que tanto celebramos e claro, cor-de-rosa bonheur.

Gui

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