carta amarela #23 – paris, je t’aime

Paris, 17 de julho de 2012

Queridos amigos,

Andei pela noite levemente fria de sábado. O dia tinha sido bem comum dos últimos tempos: Saí para ler ao sol e quinze minutos depois uma chuva acabava com meus planos. Parece que é um dos verões mais chuvosos e frios que Paris já teve. Mas sábado era um dia especial aqui: 14 de julho, queda da bastilha. Vaguei pela noite em busca dos fogos de artifício. E vi. Azuis, brancos, amarelos e vermelhos. Me senti um pouco aquecido. O vinho também ajudou.

Tenho andado muito. Aproveitado minhas férias pra conhecer Paris a pé. E pra ver e rever alguns filmes. Um deles foi “Paris, Je t’Aime”, filme de 2006 que contempla vários curtas de diversos diretores do mundo. E entre várias histórias encontrei a que melhor retrata meus últimos dias. É a última do filme, dirigida por Alexander Payne.

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Sinto aqui momentos de alegria extrema e momentos de tristeza profunda. Acho que nunca saberei realmente explicar porque essa cidade me toca tanto. Aqui foi o único lugar do mundo onde me senti plenamente a vontade pra andar de mãos dadas com um namorado na rua, e dar beijos de despedida no metrô. Aqui foi o único lugar do mundo onde senti vontade de sentar na grama meio úmida de um parque e tirar a camisa. Sem pensar se estou gordo, magro ou se é estranho tomar sol no meio da rua. Aqui foi o único lugar do mundo onde me senti a vontade pra usar a roupa que queria usar. Um lugar onde pessoas estranhas me olharam nos olhos e entenderam perfeitamente o que eu estava sentindo. Onde me molhei de chuva continuamente. Que encontrei grandes amigos – ironicamente, todos mineiros. Todos talvez, no fundo se sentindo tão sozinhos quanto eu nesse lugar. Aqui as pessoas me fizeram sentir bonito e opa! Me achei bonito pela primeira vez na vida. Foi aqui onde comecei a descobrir uma confiança nunca antes tida: a confiança em mim mesmo. Sim, agora me sinto capaz. De ser uma pessoa melhor, de saber que tenho inúmeras possibilidades e capacidades.

Sei que aqui não é o único lugar do mundo pra se viver esse tipo de coisa, e o que significa pra mim nem sempre vai significar pra todo mundo. Mas uma coisa eu sei: Foi aqui onde encontrei, entre alegrias explosivas e tristezas corrosivas, um pouco da tão aclamada liberdade.

Beijos ainda aquecidos pelos fogos de artifício,

Gui

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  • diz:

    Opa! Que carta bacana!!!
    Continue descobrindo a vida por aí!
    Bjo

  • diz:

    Quais os próximos planos? Vai fazer mais cursos por aí?

  • Marcus diz:

    todas as vezes que pego minha calça azul , aquela que compramos em Florença, lembro de vc Gui! “Vai usar em Belo Horizonte???” hahahahahah. Abraços, querido!

  • Sil diz:

    Fiquei arrepiada!! Que lindo, lindo, lindo! Amei.

  • Ana... diz:

    Aí é o seu lugar.

  • Rodrigo diz:

    Acompanhando aqui … me emocionando – também – e parando para pensar …
    Se cuida ae .

  • Pollyana diz:

    Que texto emocionante! Paris é uma cidade única!

  • Marcos de Oliveira diz:

    Em Paris é um lugar em que sinto essa liberdade de ser! A impressão que tenho que pertenço de algum modo a esse lugar. Uma coisa que não sei explicar, mas gostoso de sentir.

  • Fernanda Baronne diz:

    Me segurando porque quero escrever linda e caretamente a carta que vc autorizou, mas fica difícil esperar lendo essa carta amarela… lágrimas me vêm aos olhos… esse 14 de julho foi bem significativo pra mim também, e sua lettre jeune me emociona e me inspira! =)

  • Anahy diz:

    Amigo querido, você não precisa ir ou estar em Paris para ser bonito, você é lindo por dentro e por fora em qualquer lugar do mundo! Sabia que vc iria adorar a França! Lembra qdo te disse q vc ia arranjar um amour en Paris?! 😉 Eu me lembro bem quando saíamos nas ruas de Buenos Aires – quando lá estudamos – você falando que lá tinha a coragem de usar certas roupas que em BH não teria. Infelizmente aqui no Brasil, as pessoas tem esse pré-conceito, a sociedade quer impor uma moda, etc. mas quem faz o estilo e a moda somos nós! Na gringa é diferente, a gente sente essa “liberdade” para usar o que nos faz sentir bem, sem importar ou pensar o que “fulano” ou “cicrano” vão pensar.. Você falou uma verdade, quando moramos fora, por mais que tenhamos conhecidos, amigos ao nosso redor, muitas coisas a fazer.. volta e meia temos aquela sensação de tristeza ou solidão, pois estamos em outro mundo, com outros costumes, um idioma que não é o nosso.. longe da família e dos amigos.. Mas seja forte e persista, corra atrás dos teus sonhos, pois o tempo passa rápido demais! Aproveite cada minutinho nesse país maravilhoso, que é o país de mon amour – e pra mim, meu país do coração! Saudades! Fique com Deus et profitez bien la France! Bisous

  • Luísa diz:

    Gui,
    venho acompanhando seu blog e tentando me virar com as receitas há algum tempo já, haha. Morei em Paris no último semestre, num daqueles intercâmbios de faculdade, e nessa carta você conseguiu resumir exatamente o que sinto sobre a cidade. Paris, pra mim, foi uma série de “primeiras vezes”. Foi a primeira vez que me senti realmente viva, livre, bonita e inteligente. Na minha volta, as pessoas reparavam muito isso, diziam que eu tinha voltado confiante, como nunca tinha sido. É disso que sinto mais falta de Paris, dessa liberdade de poder ser e sentir o que você de fato é e sente. Bisous et profitez bien! (:

  • No 23º eu sinto uma pitada de inveja. Não quero sua Paris, mas queria ter um lugar onde eu pudesse me sentir assim como você sentiu. Por enquanto minha única certeza é que esse lugar é o meu quarto. Quatro paredes, uma delas vermelha, que eu escolhi chamar de pequeno mundo particular.

    • gpoulain gpoulain diz:

      eu tenho um amigo que diz que todo mundo tem uma cadeira, e que a gente vaga pelo mundo procurando onde colocar essa cadeira e finalmente sentar. eu tenho a convicção, mesmo hoje morando em Belo Horizonte, que minha cadeira se encaixou em Paris. espero um dia voltar pra lá. e espero que você também encontre um lugar onde ache que pertença e coloque sua cadeira também.

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