carta amarela #17 – pavimentos nostálgicos

Paris, 3 de junho de 2012

Queridos amigos,

Tenho vivido dias intensos. E percebi que a maioria das minhas cartas tem sido cheias de sonhos e menos de realidades.

A vida em Paris nunca foi tão romântica, e nunca foi tão cheia de sentidos. Tenho conhecido a Paris sob a vista de alguém que cresceu aqui.

Andar pelo Jardin du Luxembourg, por exemplo. Foi ali onde ele deu os primeiros passos na vida, com a ajuda de sua avó, enquanto os seus pais trabalhavam freneticamente. Parei e pensei que um dia aquele era só mais um parque bonito próximo à minha escola, mas que eu mesmo já estava montando minhas próprias histórias ali. Foi nesse mesmo jardim, em maio de 2011 onde resolvi, através de uma conversa com uma até então recém conhecida, mexer os pauzinhos na minha vida. Foi ali onde vi as primeiras flores de 2012 surgirem. Foi ali, naquelas cadeiras verdes onde sentei e chorei diversas vezes lembrando fatos e pessoas.

Andar por esse jardim hoje, já é muito mais que um parque bonito: me traz doces recordações de partes da minha vida vividas ali. Se por certa calçada Edith Piaf contou sua história, eu também estou fazendo a minha. E, nas próprias palavras dela, eu não me arrependo de nada (Je ne regrette rien!).

Meu curso se encaminha para as semanas finais. A cada vez que penso: “puxa, como passou rápido!”, eu logo penso: “puxa, como foi bem vivido!”. Meus posts aqui muitas vezes se empilham em fatos esparsos, mas sempre há mais a se contar. Nunca pensei que fosse capaz de passar 14 horas em pé numa cozinha. Mas sim, a gente é capaz.

A gente sempre é capaz de mais do que a gente acha que pode, mas acaba acomodado ao que a gente vive. Sexta-feira meu professor mudou nossos lugares nas mesas da cozinha pela última vez. A partir de amanhã vou ter uma nova dupla que no fundo eu não queria ter. Me acostumei à minha parceria com o Aaron e em como a gente aprendeu a lidar um com o outro e trabalhar de forma que um ajudasse com as dificuldades que o outro vivia. Mas acho que mesmo frente a pequenas dificuldades como a troca de quem eu trabalho junto, são esses pequenos desafios que me transformam e me alentam a seguir em frente. Não sei o que me espera amanhã. E sou um dos únicos da turma sem estágio fechado.

Se algumas incertezas hoje me geram angústia, as certezas do que quero pra minha vida me dão completa segurança pra seguir em frente. Não consigo mais viver com aquele velho ditado de que “tudo o que é bom dura pouco”, pois tudo o que é vivido com consciência permanecerá eternamente registrado em mim. E nesse vivido reside o meu maior sorriso. E as maiores certezas.

Beijos com lágrimas de histórias escorrendo pelo rosto,

Gui

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  • Aquela conversa no jardim também fez com que eu mexesse os meus pauzinhos e mudasse tudo… Feliz que estamos os dois em lugares melhores um ano depois =DDDD

  • Você realmente sabe transformar sentimento em palavra né?
    Gui, você é sensacional! Parabéns meesmo, não me canço de falar isso!
    A vida é feita de fases, e sim, elas passam, mas eu tenho certeza que o futuro reserva fases cada vez mais incríveis pra você!
    Beijo enorme!

    • gpoulain diz:

      Se eu sei transformar sentimento em palavra eu não sei, mas eu bem tento. As vezes acho que não me expressei realmente como queria, mas o resultado sempre sai de uma forma e de outra. e que bom que a sensação do sentimento chegando é sempre boa. :)

  • Ana Carolina diz:

    Por tudo o que eu leio, já te acho uma pessoa maravilhosa. Admiro suas palavras, e mais ainda, a sua capacidade de conseguir expressar seus sentimentos de uma forma tão simples, e ao mesmo tempo deliciosa. Parabéns por tudo. Obrigada por me proporcionar bons momentos lendo o seu blog. Aliás, devo dizer que tenho me inspirado bastante nas suas receitas, espero um dia ter algum talento na cozinha, é uma das minhas metas. Beijo.

  • […] Hoje, mais do que em junho, vejo essa minha passagem por Paris com outros olhos. Fui e sou feliz aqui. Vivi muito e posso dizer realmente em cada calçada: vivi uma história aqui. Uma história cheia de vida que vou carregar pra sempre comigo. E a cada vez que visitar Paris lembrarei com afeto e nostalgia todos os cantinhos onde passei.  [a carta você lê aqui] […]

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