amores finitos

Tenho falado um pouco, em alguns posts, o quanto ando cético em relação ao amor, ao se entregar. Não acredito em almas gêmeas. Acredito que muita gente tem não só um, mas alguns pares perfeitos ao longo da vida. O surgimento de um novo não necessariamente rotula o antigo como uma escolha ‘errada’ ou ‘pior’. Os amores talvez sejam mesmo cada vez maiores, a gente talvez realmente ame muito mais do que antes, e isso deve servir muito mais como estímulo para tentar novamente (quando acaba) do que pra diminuir as nossas experiências (as mais preciosas).

Recentemente li um livro que fala um pouco sobre amores finitos: Desamores, de Eduardo Baszczyn. Ele conta a história de três casais em problemas de relacionamento, de forma simples e envolvente. E, apesar do próprio autor ter me falado que não era pra ser um livro triste, foi esse o sentimento que se instaurou em mim após lê-lo (e me moveu a escrever esse texto).

Acho bem errado um pensamento que vejo cada vez mais na cabeça das pessoas: “minha prioridade é ser feliz”. Não que eu ache o pensamento em si errado, mas tudo o que vem junto dele. As pessoas não se esforçam numa relação, se entregam à paixão (que muitas vezes também chamam de forma errada de amor) e acham que isso basta. E quando começa a dar errado, é só separar, já que está sendo tão infeliz. Quando se está em uma relação, tem que se pensar a dois. Se um quer ir em tal lugar, não é simplesmente o outro falar: pode ir. É preciso fazer esforços.

Lembrei-me de uma cena que me tocou muito num filme chamado Namorados para Sempre (Blue Valentine): Logo no início do filme, a mulher encontra seu cachorro morto. E o marido fala algo do tipo: ‘eu disse que era para manter o portão fechado!’ E eu me pergunto: Adianta falar isso nessa hora? O cachorro não vai voltar a viver. É ampliar o sofrimento daquela pessoa querida. Quantas vezes já me falaram ‘I told you so’ e o meu sentimento na hora sempre foi de fúria. E acho que é em pequenas coisas assim que um amor vai minando.

Perdoem meu coração, mas eu não consigo entrar numa relação pensando: ‘se der errado separa’. Para mim é preciso estar atento ao que se fala. É fazer, mas fazer com boa vontade, nunca cumprir só pra constar. Esquecer ultimatos. Pedir com cuidado. Recuar. Esperar. Não insistir.

Aprender a falar sinto muito e saber onde estão os limites. Não é fácil. Mas não sinto que seja impossível. Sei que chega uma hora em que é inevitável o término, e que talvez ele seja melhor. No fundo eu penso que os amores são finitos mesmo. Só acho que estamos todos cômodos demais e talvez por isso eles sejam cada dia menos duradouros.

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  • João diz:

    Já li “Desamores” também, acho que mais de três vezes. E toda vez parece diferente. Não o livro, eu mesmo. Na primeira vez, o li após terminar um namoro, e me vi em muitos trechos, em muitas discussões, e fiquei bem triste ao terminar a leitura. Depois – voltando na biblioteca, infelizmente não acho o livro para comprar em nenhuma livraria daqui e nem na internet – o li com outro olhar, um olhar meio descrente, sabe? E já terminei o livro me sentindo de outra forma, algo próximo de um pouco de felicidade, eu acho. Concordo quando você diz que hoje em dia estamos mais cômodos. É raro ver casais lutando para salvar um namoro, um casamento. É raro ver as pessoas se arriscando, se jogando de cabeça em um amor. Hoje em dia, as feridas falam mais alto: não vai, você vai se machucar de novo. Mas ninguém sabe. Acho que é preciso tentar, mas é preciso tentar mesmo. Já desisti de relacionamentos antes mesmo de começarem por preguiça, cansaço. E devo ter perdido aí várias oportunidades de viver coisas bonitas, tenho certeza. Com o tempo nós vamos aprendendo. É preciso ceder, ter paciência, não ser precipitado, pedir desculpas – porque o outro às vezes é tão orgulhoso quanto nós mesmos e aí? – enfim… o filme retrata bem essa de tentar fazer dar certo, mas em alguns casos, não dá mesmo. Não sei, hoje em dia os seres humanos estão se importando cada vez menos uns com os outros, por que é tão fácil arranjar alguém que ama a gente, né verdade? Bem, é nisso que a maioria acredita.

  • Gabi diz:

    Sempre me emociono com o que vc escreve…

  • Juliana diz:

    Olá Gui!

    Estou indo a BH a trabalho e sempre quis conhecer sua Masseria,nao alheio end na internet,será que você poderia postar aqui?

    Tks!

    Ju

    • gpoulain diz:

      Olá Ju!
      Eu fechei a masseria semana passada. Estou alçando novos vôos agora. Em breve explico tudo direitinho aqui no blog. :)

      • Juliana diz:

        Olá Gui ,

        Que pena ,mas sei que mudanças na vida são sempre bem vindas.

        Eu morava em Shanghai,China e lia seu blog e pensava quando eu for a BH irei no restaurante dele.

        Quando abrir o próximo me avise pls.

        Abc

  • Lucas Resende diz:

    gostei muito do seu ponto de vista.

  • Cláudia diz:

    Olá Guilherme!

    Conheci teu blog através da Lu do Chata, e preciso dizer: que delícia de blog! Parabéns! E digo isso não apenas pelas deliciosas receitas mas também pelos teus textos, delicados e reflexivos, me encantei.

    Com certeza voltarei sempre para me deliciar, com receitinhas e palavras…
    Bj

  • Sissi diz:

    Adorando o blog, senti falta da mais nova ferramenta da internet, o “campartilhar” :)

  • clara mesquita diz:

    nossa como esse seu post me tocou.penso como vc que hj não há quase mais esforço, que é tudo muito superficial,que todo mundo chama paixão de amor…me senti um pouco reconfortada de ver que há alguém com uma visão parecida

  • […] Já falei sobre esse ótimo livro brasileiro aqui. […]

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