carta amarela #9 – entrelinhas

Paris, 31 de março de 2012

Queridos amigos,

A gente sempre reclama do filme de final feliz: ‘ah, a vida não é assim, esses filmes só colocam ilusões na nossa cabeça’. Mas a gente também sempre reclama quando o mocinho morre no final: ‘eles tinham que ficar juntos!’. Fato é que a gente nunca está plenamente satisfeito com nada na vida. E aí vem nosso lado crítico: ‘esse doce está uma delícia, maaaaas…’ Sempre morro de medo do que vem depois do ‘mas’.

Estou vivendo uma fase muito gostosa de coisas novas e pessoas novas e descobertas agradáveis – o que por acaso é maravilhoso.

Maaaas… É difícil relaxar.

As experiências moldam as pessoas, as dores viram calos, a gente adota muletas – e vai ficando tudo menos natural, menos bonito, enfim. É bom aprender, claro, mas perde um pouco da mágica, não?

Coloquei pra mim que não quero perder nunca a capacidade de me surpreender. Nunca nunca.

Vejo que algumas pessoas muitas vezes se enxergam como o centro do mundo, e por isso mesmo tudo a sua volta ganha uma importância menor que realmente tem. É muito chato essas pessoas que vêem coisas lindas e não se importam. De que não é nada mais que a obrigação do mundo. Que nada é bom o suficiente.

Essa semana vivi um piquenique no primeiro domingo de primavera. Nunca imaginei que um piquenique e um dia de sol depois de tantos dias frios fosse ser uma das coisas mais incríveis que vivi. Vi as flores brotarem. Vi os jardins ficarem verdinhos, verdinhos. Vi o humor dos parisienses – e porque não o meu? – mudar pra sorrisos nos rostos. Vi a cidade encher de pessoas de uma hora pra outra. Fiz macarons. Macarons de limão. Joguei cor neles com um spray. E me senti criança de novo. Fizemos guerra com anilina, e todos nos sentimos crianças de novo. Tivemos uma mesa cheinha de macarons e fizemos um ataque a eles. Comi dezenove de uma vez. Fizemos madeleines. Queimamos madeleines. Fizemos cara de esfomeados frente aquelas que estavam estragadas. Chamamos as madeleines que pareciam peitos enormes de ‘brazilian boobs’ (juro que não fui eu que dei o nome!).

E parei pra pensar: Talvez a grande maravilha do mundo esteja em ver a beleza das pequenas coisas. Tem pessoas que se empanturram das maiores maravilhas do mundo e saem insatisfeitas. Quantas tem a oportunidade de ver tudo e sempre morrem de tédio. Eu não.

Beijos de quem continua procurando as melhores coisas da vida nas entrelinhas,

Gui

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  • recabral diz:

    Um livro de que gosto muito tem como título “Deus está nas pequenas coisas e todas são importantes”. Tento me lembrar disso o tempo. Tempo não perder o encantamento, o brilho no olhar, mesmo diante das coisas aparentemente mais insignificantes. E desde que encontrei seu cantinho, ele tem me ajudado a suspirar mais um tiquim, Muito, muito obrigada por colocar mais cor (e sabor) no meu dia a dia! :)

  • primatz diz:

    Depois que mudei para Santiago, encontro incrível a mudança das estações…. como é lindo quando começa o outono e as folhas caem, é uma sensação indescritível…

  • Texto lindo 😀
    Essa semana também comecei uma rotina nova (e puxada) e estou me sentindo mais ou menos desse jeito. Eu poderia estar reclamando de estar acordando muito cedo, trabalhando 10h por dia, chegando em casa exausto, mas tô vendo e vivendo tanta coisa nova e empolgante, que tudo isso fica em segundo plano…

  • alanna diz:

    Oi Guilherme,sou leitora assídua do seu blog há pouco tempo…o que me trouxe até ele foi um súbito interesse por culinária,mas o que está me fazendo permanecer são essas cartas amarelas que vc escreve…menino,vc escreve com a alma…sou fã de quem consegue fazer isso…”qdo eu crescer,tb quero me expressar assim”…rsrsr…vejo que vivemos em mundos diferentes,estamos tão distantes fisicamente,mas temos uma visão parecida da vida.Hoje mesmo,não resisti e estou aqui comentando,porque é como se vc traduzisse também o que há em mim…
    Enfim…
    Deixando agora o confeti que estou jogando de lado,volto em maio pra Paris(meu namorado mora aí).Vou ficar 2 meses…to feliz…to ansiosa por ver a primavera e seus ritos(estive aí em dezembro…um friooooo!),vou colocar a mão “na massa” literalmente(e continuo um desastre na cozinha!),vou pensar na vida…vou fazer escolhas…um período meio sabático,eu acho!Queria muito provar suas tartes e tudo isso que enche meus olhos-assim como suas cartas enchem o coração-nçao sei se pode,já que é uma escola… mas,se puder,me diz que apareço…

    Boa sorte e muita luz na sua vida…que vc nunca perca a capacidade de ver em cores(como diria Quintana)…eu tb luto muito pra isso!
    Abraço,
    Sua “leitora”,
    Alanna.

    • gpoulain diz:

      que bom saber que tem gente que pensa da mesma forma sobre alguns temas!

      que delícia vir aqui ficar 2 meses! bom, lá na escola não pode entrar mesmo não. mas quando estiver por aqui me avisa.

      grande abraço!

  • laratorrezan diz:

    Gui, adoro teu blog, tuas cartas amarelas e tuas receitas! Sou uma atriz que adora fazer doces para os amigos e para comê-los principalmente euheuheueh Fui a Paris e n comi macarons :~ perdi a oportunidade, mas sei que virão outras! Vou tentar fazer suas tortas, assim vou aprendendo com vc!

    Obrigada pela doçura diária :)

  • laratorrezan diz:

    Gui, adoro teu blog, tuas receitas e cartas amarelas! Sou uma atriz que adora fazer doces para os amigos e para comê-los principalmente heuheuheuh Fui a Paris e Não comi macarons :~ perdi a oportunidade, mas quem sabe numa próxima? Vou tentar fazer suas tortas, assim vou aprendendo com vc!

    Obrigada pela doçura diária :)

  • Só vejo macarons. E lembrei daqueles que vc fez ano passado, heheheh!

  • Tereza diz:

    Guilherme, descobri seu blog por um acaso muito feliz… Sou uma incapacitada na cozinha, mas adoro culinária (isto faz algum sentido?!). Acho que a comida nos reúne, nos conforta, nos surpreende… Além disto, acho que você possui o “dom da palavra”, seus textos são muito bacanas! Parabéns pelo blog. Um forte abraço.

    • gpoulain diz:

      claro que faz sentido! conheço tantas pessoas que amam assistir programas na TV de culinária, se sentem inspirados, mas acabam nem cozinhando. a comida é isso mesmo que você falou… obrigado!

  • João diz:

    Sou muito fã das suas receitas e cartas amarelas, só não passo aqui com assiduidade porque, às vezes, não tenho tempo. Bem, fico um pouco triste com as pessoas que não conseguem enxergar beleza em um pôr-do-sol ou uma tarde com os amigos. Querem sempre mais. Lugares espetaculares, vistas deslumbrantes, jantares sensacionais e comidas extravagantes. Tudo isso é bom (e pode não ser), quem não gosta? Mas isso não define nada, tá tudo dentro da gente. Da forma como nós olhamos o mundo. Se está insatisfeito aqui, vai estar lá do outro do mundo e não há nenhum ponto turístico que vá fazer isso mudar. Há momentos inesquecíveis em qualquer lugar, a gente é que, às vezes, visualizamos essas vivências de forma exacerbada. Grande abraço,

    x)

  • Taís Santos diz:

    Gui, venho acompanhando seu blog já ha algum tempo e apesar de nunca ter comentado antes garanto que adoro suas receitas e palavras.
    Infelizmente não pude participar desse piquenique mas ler esse post foi quase tão gostoso quanto.
    Obrigada
    Bjs

  • Mayk Lourenço diz:

    Gui, quero um peito brasileiro, digo…ah você me entendeu! Hahaha. Concordo muito com o seu texto querido. Eu costumo dizer que me apaixono sempre por pequenos detalhes. Detalhes que geralmente passam desapercebidos por muitas pessoas. =/

  • Andréa Tomaz diz:

    Dizem que aquele que aprende a andar de bicicleta, nunca esquece…não é mesmo Gui? isso no campo físico…no campo imaterial, observo que você aprendeu coisas nobres e que nunca as esquece…aprendeu que a felicidade real está representada por pequenas porções de bem…aprendeu também a ser generoso e dividi-la com os demais, afinal “a felicidade se compartilha ou se perde”
    “A maioria dos seres humanos crê que a felicidade tem uma forma limitada e que se alcança ou conquista por algum meio sobrenatural que é necessário descobrir; enquanto isso não ocorrer, sua busca haverá de ser uma constante obsessão. Todavia, a felicidade é algo que a vida vai outorgando através de uma infinidade de pequenos instantes. Entretanto, como esses instantes comumente são tidos em pouca conta, por breves ou pequenos, quase passam despercebidos à própria consciência. Se fossem unidos, porém, uns com os outros, revivendo-se os fatos para apreciá-los melhor, ver-se-ia quão grande é a ingratidão ao serem esquecidas com reiterada freqüência essas partes de felicidade que tantas vezes foram experimentadas, sem que jamais se pensasse no que podiam representar para a vida.” (Da Logosofia)
    Adoro você!!
    Deinha..

    • gpoulain diz:

      ô Deinha, nunca esqueço as coisas importantes que aprendi na vida, seja o que aprendi com meus pais, o que aprendi com amigos como você, o que aprendi com a Logosofia. obrigado por passar aqui! Também te adoro!

  • Das tantas pequenas belezas que me dão gosto de viver, tem os olhos que sempre dizem pra mim muito mais que os lábios. Eu gosto dos olhos.

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