carta amarela #79 – tão longe tão perto
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Belo Horizonte, 9 de abril de 2014
Queridos amigos,
Não me esqueço quando, há pouco mais de um ano e meio, ele me perguntou: como digo amour em português? Amor, eu disse. E como dizer, de forma fofa, quando algo é petit? É só colocar um ‘inho’ ou ‘inha’ no fim da palavra, dependendo se é uma palavra no masculino ou feminino. Desde então, ganhei o apelido de amorinho. E nunca quis explicar que na nossa difícil língua portuguesa ainda entrava um “z” ali no meio.
Dessa vez foram 7 meses de distância. Saí de casa com mais de uma hora de antecedência. Peguei uma Cristiano Machado toda engarrafada. O carro nunca andava. Eu nervoso. As músicas no celular repetiam após tocar todas. E eu nunca chegava ao aeroporto. Estacionei o carro com dificuldade. O aeroporto, todo em obras. Peguei meu bilhete do estacionamento. Tentei guardar mentalmente onde o carro estava e marchei em direção ao portão de chegadas. Pessoas se abraçando. Pessoas emocionadas, esperas longas. Mas ele já não estava mais lá. Comecei a procurar, e quando vi, ele estava bem atrás de mim. Um grande sorriso no rosto, uma mala enorme metade vazia pra levar tapioca na volta, e um pequeno puxão de orelha porque eu não estava lá na hora em que chegou. Abracei forte. Assim, forte, forte, forte.
Ter um relacionamento à distância é aprender a esticar os laços, quão longe eles puderem ir. É difícil, mas tenho vivido dessa forma experiências notáveis. A espera fatigante é recompensada, ali mesmo ao buscar no aeroporto. Os poucos momentos juntos são muito mais intensos. É um querer não dormir, é um querer tocar o tempo todo. No meio tempo a gente vive de palavras. De emoções. De sensações. Um constante recordar do outro. Longas conversas por facetime. Contagem regressiva por ali mesmo quando é meia noite de ano novo lá na França e algumas horas depois quando é meia noite por aqui. Presentes e cartas pelo correio. Mensagens desencontradas do fuso do horário. Um aprender de línguas diferentes. Experiências sensíveis e tocantes nunca antes vividas. E a gente tem tempo pra gente mesmo, pra se descobrir e descobrir o outro. E fazer o sentimento crescer. Talvez seja assim mesmo: quanto mais longe estiver, mais perto do coração.
A gente desdobra o fato de não poder se tocar em outras coisas. Em conversar mais. Em conhecer mais o outro. Em ter todo dia coisas novas pra contar naquele pequeno contato diário. É também um não brigar da convivência diária, é um quase morrer de sentir falta, mas entender que dias muito felizes ainda virão assim que possível.
Guardo as coisas boas e não deixo esgotar os bons momentos em que estamos juntos. Assim a sensação dura. E são esses breves momentos que a gente passa junto no ano que impregnam em tudo o que diz respeito a nós.
Um pedacinho de tempo que se converte em eterno. Um z que em nada falta no mais amoroso amorinho.
Gui
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