carta amarela #63 – voltei alguém melhor
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Paris, 16 de setembro de 2013
Queridos amigos,
Já ouvi gente falar o quanto ama Paris. Gente que detesta. Gente que prefere, sei lá, New York. Gente que viaja pros confins da Ásia, a descobrir algo bem diferente e bem novo. E é por isso que cada um tem suas próprias viagens, mesmo que indo ao mesmo lugar que muitos outros turistas. Já disse Fernando Pessoa: “A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos.”
Por aí sempre cruzo com pessoas a viajar. Tem daquelas que querem comprar tudo. Fazem do mundo um grande shopping center. Talvez resida aí sua segurança em não se jogar no mundo – o mundo chamado “consumo” essas pessoas já conhecem bem de casa mesmo. Deixam de ver coisas únicas pra talvez comprar aquela mesma marca que compra em sua cidade natal, usando simplesmente a frase: “foi muito mais barato comprar lá!”.
Há aqueles que precisam registrar todos os minutos em fotos e filmes. Se fecham diante de suas lentes e voltam pra casa com milhares de fotos, que talvez nunca sejam triadas pra achar aquelas poucas pérolas que verdadeiramente resumem toda a viagem e que sempre vão lembrar um tempo bom quando vistas.
Tem aqueles também que fazem roteiros milimétricos do que vão viver. “É pra não perder um minuto sequer!” – alguns dizem – “Assim não vou deixar de ver tudo o que importa em poucos dias”. E esquecem de ir lá simplesmente viver. De poder dormir um dia até mais tarde se assim lhe convier. De descobrir um programa inusitado no meio do caminho ao invés daquele museu que a gente já conhece por tantas fotos, filmes.
Há também os que não planejam nada, nem reservam hotéis, simplesmente vão. E passam sim os maiores apuros possíveis. Mas quer saber? Prefiro talvez esses que não tenham medo de ir viver. São esses apuros as histórias que vão ficar pra contar.
Tem aqueles que acham que uma viagem vai mudar totalmente a vida. Talvez até vá, mas ao colocar tantas expectativas nessa mudança de vida, talvez se frustrem mais do que aproveitem pra aprender.
No fundo quem faz a viagem somos nós mesmos, ninguém mais. Em viagens somos eternos solitários em frente a um mundo novo, a experiências novas que nos fazem ver nossas próprias nuances internas. É como a convivência. Com os franceses, por exemplo, aprendi a falar mais baixo, a comer de tudo e aproveitar todos os minutinhos que o sol estiver no céu. Com italianos, aprendi a querer conversar com todo mundo mesmo que a gente não entenda nada da língua deles. Com espanhóis aprendi a festejar, com os portugueses a fazer doces incríveis. Com ingleses aprendi que a gente pode ter os cabelos mais loucos de cores mais improváveis. Com australianos aprendi a ser mais aventureiro. Com chineses aprendi a ser mais organizado. Comigo mesmo aprendi que sempre que viajo volto sendo alguém melhor. Com novos conhecimentos. Novas experiências. E também, menos medos nessa bagagem pesada que carrego sobre as costas.
Beijos doídos de mais uma dura despedida,
Gui
Foto: Fabrice Reveilhac
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