carta amarela #61 – 28

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Belo Horizonte, 9 de agosto de 2013

Queridos amigos,

Aos 27 parei de gritar de raiva. Ando mais calmo, mesmo explodindo de felicidade. Continuo sem conseguir me controlar.

Aos 27, ri muito. Aprendi a me levar menos ainda a sério. Dancei muito na frente do espelho. Dancei também em estações de metrô. Continuei tropeçando e batendo em todos os lugares. Afinal, as pilastras sempre mudam de lugar pra bem em frente de mim.

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Aos 27, tive meu primeiro namoro duradouro. Aprendi ainda mais a arte da convivência. Trabalhei muito. Fui um estagiário muito cabeça dura, aliás. Dei trabalho para os meus chefs com minhas muitas ideias mirabolantes, mas também produzi demais. Queimei-me. Cortei-me. Ganhei ainda mais cicatrizes. Sorrio e tenho uma história, um bolo ou uma madeleine pra cada uma delas. Passei horas e horas enfileirando amêndoas em bolos. Abri mil sorrisos com os sorrisos dos clientes.

Aos 27, voltei pro Brasil. E senti falta do meu cantinho vermelho de 21 metros quadrados. Aprendi que a gente pode sim viver em pequenos espaços. Foi assim que aprendi a me desapegar. Foi assim que aprendi a consumir menos. Foi assim que aprendi a ser mais organizado. Foi assim que aprendi a simplificar mais minha vida. Comecei a pintar aquarelas. E fazer receitas ilustradas. Minha regra continua sendo sair sempre à inglesa (explico: na França o “sair à francesa” é “sair à inglesa”). Continuo gordo de espírito. Serei sempre #teambaleinha. 

Aos 27, chorei num show abraçado a uma amiga. A silent devotion. Entreguei uma carta amarela à Beth Ditto. E a vi cantar no bis a música que eu contei ter sido parte da minha vida. Aos 27 continuo tendo fome o tempo todo. Aos 27 aprendi que ainda tenho muito a aprender. Foi aos 27 que saí pelas ruas em prol do meu país. E que também listei tudo o que eu mesmo podia mudar em mim pra fazer a minha parte em fazer um país melhor. Tive um bigode grandão, de enrolar as beiradinhas.

Dormi de menos. Pensei demais. Trabalhei demais. Comi demais. Idealizei demais. E sim, realizei demais. Continuei vendo o sol nascer sempre que possível. E me senti grato por isso. Minha vida continua tendo trilha sonora. Fins de tarde sempre me dão nostalgia. Durmo de conchinha só nos primeiros dez minutos. Me esparramo na cama. Sempre sou o último da fila. Apesar de estar quase nos 30, ainda me inspiro no Ferris Bueller. Continuo tendo senso de humor. Aproveitei todas as oportunidades possíveis. Senti borboletas no estômago. Amei de mais. Amei de menos. E faria tudo de novo e de novo e de novo. Afinal, je ne regrette rien.

Um abraço e um sorrisão, agora aos 28,

Gui

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