carta amarela #52 – mais longe, mais perto

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Belo Horizonte, 15 de abril de 2013

Queridos amigos,

Estacionei o carro com dificuldade. O aeroporto está em obras. Peguei meu bilhete do estacionamento e um livro que estava lendo. Guardei mentalmente onde o carro estava e marchei em direção ao portão de chegadas. Parei exatamente em frente a barra onde as pessoas esperam, ligeiramente pra direita, onde me cabia. Abri o livro. Página 43, eu ainda estava no começo. Comecei a ler, mas os pensamentos estavam longe. Os minutos foram passando lentamente, e eu ainda estava na página 43. O portão se abriu pela primeira vez. Ninguém que eu conhecesse. Pessoas começaram a se abraçar. Pessoas emocionadas, esperas longas. Vi aquela porta se abrir e fechar várias vezes, e não consegui definitivamente ler mais. O tempo não passava, as pessoas sim. Até que o avistei. Ele veio diretamente até mim, com um grande sorriso no rosto. Não resisti, passei pela barra e o abracei. Abracei forte. Abraço de ursão, como diria o meu pai.

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Ter um relacionamento à distância é aprender a esticar os laços, quão longes puderem ir. É difícil, mas tenho vivido dessa forma experiências notáveis. A espera fatigante é recompensada, ali mesmo ao buscar no aeroporto. Os poucos momentos juntos são muito mais intensos. É um querer não dormir, é um querer tocar o tempo todo. No meio tempo a gente vive de palavras. De emoções. De sensações. Um constante recordar do outro. Longas conversas por skype. Presentes e cartas pelo correio. Mensagens desencontradas do fuso do horário. Um aprender de linguas diferentes. Experiências sensíveis e tocantes nunca antes vividas. E a gente tem tempo pra gente mesmo, pra se descobrir e descobrir o outro. E fazer o sentimento crescer. Talvez seja assim mesmo: quanto mais longe estiver, mais perto do coração.

Guardo as coisas boas e não deixo esgotar os bons momentos em que estamos juntos. Assim a sensação dura. Duas semanas depois voltei ao mesmo aeroporto. Esperei até que entrasse na sala de embarque e me debulhei em lágrimas. Esses breves momentos impregnaram em tudo o que diz respeito a nós.

Um pedaço de tempo que se converteu em eterno.

Um abraço à espera do próximo reencontro,

Gui

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