carta amarela #48 – coisas menores

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Belo Horizonte, 31 de janeiro de 2013

Queridos amigos,

Antes de partir, passei numa pequena livraria para trazer alguns livros em francês para o Brasil. Entre prateleiras antigas de madeira suspirei. Vi edições mais antigas de livros que hoje possuem como capa os posteres de seus filmes. Vi alguns outros antigos, já usados, vendidos ao que diríamos a preço de banana. Saí dali e passei em uma loja de vinis. Vinis novos, de música alternativa. Vinis antigos do jazz de outrora.

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Foi-se o tempo em que todas as lojas eram assim. Um tanto pessoais. Eu me pergunto o que leva as pessoas às grandes e modernas livrarias. Descontos? Livros que a gente só lê porque todo mundo está lendo? Gosto de lugares onde me sinto um pouco em casa. Casa com cara de casa mesmo. Gosto de ler aquilo que me move. Gosto de passear pelas ruas, mais do que em shopping. Taí, perdemos muito com esses aglomerados de lojas. Eu sei, é mais cômodo. Mas acho que de tanta comodidade temos virado é preguiçosos.

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Lembro-me de um filme bobinho mas fofo: Mensagem pra Você, com Tom Hanks e Meg Ryan. Naquele filme víamos a pequena livraria da esquina fechar suas portas, depois de sonhos, depois de danças entre mãe e filha naquele espaço, por causa de uma grande livraria. Lembro-me também que, claro, todo mundo torcia pra pequena livraria não fechar. Mas ela fechou.

Hoje em dia buscamos grandes sonhos também. Queremos grandes palavras, grandes casas, carros mais luxuosos. Muita gente quer o vestido da protagonista da novela. A mesma bolsa que a atriz foi flagrada usando. E todo mundo vai ficando igual, igual. As lojas também. A vida também.

É por isso que toda vez que alguém acha meu bigode estranho, eu sorrio. Alegro-me toda vez que me olho no espelho. Aquele bigode com as pontas pra cima deixa meu rosto mais feliz. Complementa meu sorriso e me ajuda a ser um pouquinho mais único.

Um beijo e um sorriso pra levantar ainda mais o bigode,

Gui

foto #1: Eduardo Baszczyn

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  • Priscila diz:

    lindo como sempre, Gui, beijos

  • Eu publiquei um livro ano passado. Até hoje não houve lançamento e só aqueles com que o presenteei tem uma cópia.
    Um dia conversava com uma amiga sobre isso, falando desse medo que eu tenho do lançamento, de como queria que as pessoas certas lessem aqueles textos tão minunciosamente escolhido pra realização do meu primeiro sonho. Porque era meu sonho, sabe? Não era meu primeiro livro, era mais que isso. Pra mim. Não é pelo sucesso, não é pra vender, não é pra finalmente me enxergarem de um jeito mais sério como escritor porque eu não acredito que escritor se define por publicação de obra ou não. Escrita, pra mim, vai além disso. E eu queria isso, queria uma lojinha como da Meg Ryan, ou um sebo desses com cara de biblioteca dos sonhos, eu queria deixar por aí, em bancos de praça, esquecer num caixa, escondido na sessão de culinária da Saraiva pra alguém que moldasse comida com afeto. É meio que brincar com o destino, que eu tanto acredito: deixar assim, tão solto no mundo quanto eu gostaria de me fazer, pra ser encontrado por quem nem o estava procurando. Coisas menores, mais difíceis de se encontrar. :)

    • gpoulain gpoulain diz:

      que comentário lindo. sinto também assim. na verdade gosto que no fim das contas não serão tantas cópias do meu livro. acho que vai ficar mais especial. e especial também pelo crowdfunding. sabe? todo mundo apoiando pra que vire realidade. isso não tem preço. um beijo!

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