carta amarela #38 – eu, orador

München, 21 de outubro de 2012

Queridos amigos,

Sempre quis ser orador. Não aconteceu na minha colação em design gráfico. E nessa última formatura, não houve um orador.

Acredito que sou razoavelmente bom com palavras. Especialmente articulado quando discuto e, principalmente, quando acho que tenho razão – costumo ser bem cabeça dura. Também acredito que sei usar as palavras pra agradar alguém. Nesse caso, porém, tenho que montar e pensar e analisar o melhor encaixe na minha frase. Sempre consigo.

Mas muito mais do que ser bom com palavras, eu gosto delas. São essenciais. A memória auditiva é muito forte. A gente lembra, pra sempre, das coisas ditas (boas e ruins). A gente repete as boas e sorri, todas as vezes. Gosto de agradar através das palavras. Gosto de ouvir carinhos também. Mesmo sendo esses agrados completamente desnecessários, se você pensar, são ao mesmo tempo essenciais.

As coisas boas nunca são as mais urgentes de serem resolvidas. Mas são as mais urgentes de serem vividas.

Quando sinto alguma coisa muito forte dentro de mim, as palavras ficam gigantes, pesadas e me calam. Pairam em minha mente, me sufocam. Me dominam. Na tentativa de falar o que estava me sufocando, sem o peso de ouvir qualquer coisa que seja de volta, escrevo. Escrever é uma delícia porque é um exercício solitário. Vivo o texto sozinho e desafogo tudo imediatamente. Na hora que for lido, já me livrei daquilo. Não é mais meu, é só de quem está lendo.

E foi assim que nessa rápida colação de grau busquei meu diploma, olhei pros meus pais. Olhei aos amigos que ali formavam, sorri pro meu chef. E não disse uma palavra. Naquela emoção talvez não caberia nenhuma delas.

Um abraço do pâtissier,

Gui

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