carta amarela #31 – você faz falta em mim
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Belo Horizonte, 26 de agosto de 2012
Queridos amigos,
Duas semanas é muito pouco. É, eu já sabia. É pouco tempo pra ver todo mundo que eu queria ver. Pouco tempo pra ver pelo menos duas vezes aqueles mais queridos. Muito pouco pra matar a saudade, é verdade.
Mas deu pra fazer um pouquinho de tudo o que a saudade pedia. Tenho dado enorme valor pra capacidade de comunicação dentro dos meus relacionamentos. Conseguir falar o que preciso pra quem preciso, mesmo que meu tempo com cada um tenho sido as vezes menor do que eu queria.
A gente fala com tanta naturalidade da saudade – ainda mais quando temos, privilegiados, uma palavra exclusiva só para descrever o sentimento da falta – que talvez fique banalizado, escondendo essa saudade verdadeira. Essa sim, um aperto muito raro, quase desesperado, quando a falta é bem maior do que aquela saudadezinha transitória.
Amo também a expressão em francês utilizada pra falar pra alguém que você sente falta: “tu me manques”. Traduzindo ao pé da letra, não significa “eu sinto a sua falta” e sim “você faz falta em mim”. É como se aquela pessoa querida fosse parte da gente, e essa parte está no momento, faltando pra completar o todo.
A gente não pode reclamar muito da falta senão aquela diante da qual somos completamente impotentes – a morte com certeza inclui-se aí, mas também distâncias intransponíveis, intervalos enormes no tempo (e de espera). Mas a saudade acaba acontecendo, talvez sem morte, mas com o quê de impotência, de não ter o que fazer, como resolver a urgência de estar perto. É um vazio sem toque. Sem cheiro. Muitas vezes sem voz. Tudo lembra, tudo entristece, tudo é desculpa para se diminuir diante da saudade.
Volto a Paris com a certeza que meus laços aqui estão mais fortes e sólidos do que nunca, e isso me traz uma profunda felicidade. Vou sentir falta dos sorrisos. Do céu sempre azul. Das risadas, do alto e bom português. Da mandioca frita. Mas, se naquele dito tão popular americano dizem que “lar é onde o coração se encontra”, posso dizer: meu coração, hoje, está em Paris. Com vários pedacinhos deixados aqui.
Beijos no aeroporto, com os olhos inchados de quem chorou muito no último abraço da mãe,
Gui
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