versos de um crime

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Acho que todo mundo lendo esse texto – ou uma maioria considerável – gosta dos filmes da série Harry Potter, certo? Lembro que, quando o primeiro foi lançado, dei uma de esnobe (“é filme pra criança”) e não vi nos cinemas. Quando o segundo saiu, estava visitando minha mãe no interior de Minas, sem nada pra fazer e apenas um cinema na cidade. Exibindo o segundo Harry Potter, dublado. Decidi assistir o primeiro antes (que, claro, só estava disponível dublado na locadora da cidade). Assim foi minha introdução ao universo “potteriano” – mas foi apenas com o terceiro filme, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, que fui cativado de verdade (talvez ainda seja o melhor de toda a série).

Além da história em si, que é sensacional, pra mim um dos grandes motivos do sucesso dos filmes é o talento e a química dos três atores principais. Todos que acompanharam a saga viram Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint crescer a olhos vistos, tornando-se melhores atores a cada filme e virando dois gatões e uma gatona. Quando a saga chegou ao fim, ficou aquela pergunta no ar: e agora? Será que os atores conseguiriam livrar-se de Harry, Hermione e Ron?

Rupert Grint ainda está meio que titubeando na carreira, enquanto Daniel Radcliffe e Emma Watson já têm sua parcela de projetos de prestígio pós-Potter. O mais refrescante na trajetória dos atores, e o que une os três (Grint inclusive), é um desejo de ir além dos blockbusters, de realizar filmes pequenos e ousados. Watson tem se saído muito bem, com papéis de peso nos ótimos As Vantagens de ser Invisível e The Bling Ring. E Radcliffe prova novamente que é o mais ousado dos três (basta lembrar que mesmo antes do fim dos filmes Potter ele estava nu nos palcos com a peça Equus) com a estreia em solo brasileiro de Versos de um Crime (Kill Your Darlings), interpretando o escritor beatnik Allen Ginsberg.

Por que ousado? Bom, pra ser rápido e rasteiro, Radcliffe protagoniza (entre outras coisas) uma cena de sexo com outro homem – e não é uma cena necessariamente pudica. Em entrevistas, o ator continuou sendo um exemplo a ser seguido entre os colegas, não diminuindo a importância da cena e ao mesmo tempo não dizendo clichês como “foi tãoooo difícil de fazer, mas sou um profissional”.

Dito tudo isso, Radcliffe/Ginsberg não é o verdadeiro protagonista do filme. Quer dizer, ele é – Ginsberg é o espectador inserido na história, o personagem que observa as pessoas ao redor -, mas a força motora do filme é o também escritor Lucien Carr, vivido por Dane DeHaan (que pôde ser visto nos cinemas recentemente no segundo Homem-Aranha com Andrew Garfield). DeHaan, que lembra imensamente Leonardo DiCaprio pré-Titanic, injeta uma intensidade enorme em Carr, um rebelde-sem-causa manipulador, carismático e enganador, um jovem pansexual que seduz as pessoas à sua volta e depois as descarta quando elas não o interessam mais. Entre elas David Kammerer (Michael C. Hall, o Dexter), que fica tão obcecado por Carr que acaba sendo assassinado por ele. (Não precisam gritar “spoilers!”, já que esta é a primeira cena do filme)

Versos de um Crime não é perfeito, mas levanta discussões interessantes. Carr é o vilão da história, mas ao mesmo tempo (ao menos na visão do filme) é a influência dele que liberta Ginsberg de suas amarras – sexuais e criativas. Carr inspira Ginsberg a escrever, e o filme parece perguntar: vale a pena ser explorado assim por alguém, se a recompensa é arte? O que diriam Adele e Alanis Morissette, por exemplo, que basearam seus discos de maior sucesso em homens cafajestes? Um dos méritos do filme é não dizer “sim” ou “não”. Fica a cargo de quem assiste. E Radcliffe segue com sua carreira pra lá de interessante.

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  • Laíza Felix diz:

    adriano, também sou fã tardia de HP! to lendo a saga pela primeira vez e sinto que perdi um tempão com preconceito ;~ to lendo justamente azkaban, ó! e fiquei curiosa pra ver esse filme. parabens pelo texto e obrigada pela dica :)

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