steve jobs

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Biografia em época de Oscar geralmente é sinônimo de filme conservador. No ano passado (início desse ano, em se tratando de lançamento no Brasil), tivemos dois típicos exemplos de biografia-feita-pra-Oscar: O Jogo da Imitação e A Teoria de Tudo, dois filmes que em maior ou menor grau mantêm-se fiéis à cartilha: personagens centrais geniais que são incompreendidos ou injustamente maltratados, superação, um legado para a eternidade. Steve Jobs, de Danny Boyle (Trainspotting e Quem Quer Ser Um Milionário?), tem tudo isso, mas joga a convenção às favas.

O roteiro extremamente original e conciso de Aaron Sorkin (A Rede Social) não está interessado nas origens de Jobs – o filme começa em 1984, ano do lançamento do Macintosh da Apple; o passado de Jobs é apenas citado em diálogos e ocasionalmente visto em curtos flashbacks. A estrutura do filme é teatral: três atos, cada um situado nos bastidores do lançamento de um produto idealizado por Jobs, nas décadas de 80 e 90. Mas não estamos falando de teatro filmado, ou mesmo de uma homenagem ao teatro à la Birdman: Steve Jobs, assim como o homem-símbolo da Apple, é original, ágil e dinâmico. E em determinados momentos surpreendentemente emocionante.

Michael Fassbender pode não parecer tanto com o verdadeiro Jobs, mas isso não importa – a atuação do galã é impecável. Jobs é apresentado como uma figura complicada, em alguns momentos insuportável e injusto, mas sempre fascinante. O filme não se concentra em detalhes técnicos dos produtos, e sim na pessoa por trás deles. Em questão de minutos, Jobs pode ser turrão, teimoso, gentil, genial, atencioso, cruel. Ele recusa a dar crédito público ao amigo Steve Wozniak (Seth Rogen), parceiro de criação por anos; apenas tolera a ex-mulher (Katherine Waterston) e declara várias vezes na presença da filha Lisa: “Ela não é minha filha”. A única pessoa poupada da crueldade de Jobs é sua assistente, Joanna (Kate Winslet, brilhante), que merece um altar por sua paciência.

Quem for ver o filme esperando mais detalhes sobre a invenção do iPod e do iPhone vai se decepcionar – o filme termina às vésperas do lançamento do iMac, em 1998. A meu ver essa é outra escolha acertada do roteiro: terminar com Jobs chegando ao topo, o início de uma dominação da tecnologia que durou até a sua morte (ou melhor, que continua mesmo após sua morte). Não há aqueles letreiros indicando quando e como Jobs morreu, e nem uma frase final triunfal do tipo “Por ano, xxx milhões de iPods são vendidos no mundo”. Steve Jobs, o filme, não quer pintar um retrato edificante do rei da Apple. A pergunta que fica ao final é mesmo a utilizada na campanha do filme: pode um grande homem ser um bom homem?

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