minha vida sem mim

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“O que você faria se descobrisse que tem apenas alguns meses de vida?”

Praticamente todo mundo já pensou sobre essa pergunta. Algumas pessoas responderiam com grandes atos, como viajar, mudar a vida radicalmente; outras talvez decidissem fazer pequenas coisas, coisas que sempre tiveram vontade de fazer mas que ficaram sempre pro “depois”. Ann, a protagonista de Minha Vida Sem Mim, faz uma lista humilde. Inclui mudanças estéticas, como “unhas falsas, talvez”, e ações marcantes como “visitar meu pai na prisão”. Mas ela não escreve nenhum item do tipo “pular de pára-quedas”. Ann é pé no chão.

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O perigo de um filme-de-doença-terminal é transformar a questão numa choradeira sem fim, fazendo o espectador se acabar em lágrimas no nível mais superficial possível. Um dos grandes méritos de Minha Vida Sem Mim é justamente escapar do melodrama fácil. Quando Ann recebe a notícia de que tem um câncer terminal, a sua primeira reação é de surpresa: “E eu achando que estava grávida”. Ela chora, mas sem som algum. Em nenhum momento ela parece pedir que a gente sinta pena dela.

E pena a gente pode sentir. Ann, 23 anos, duas filhas, morando com a família num trailer nos fundos da casa da mãe. Mas Ann se recusa a ser vítima, assim como ela se recusa a contar a notícia aos familiares. Ela coloca as unhas falsas; ela visita o pai; ela inclusive faz alguém se apaixonar por ela (o último item da lista). E mesmo com pouco tempo de vida ela sabe que seria muito egoísmo fazer simplesmente o que tem vontade, sem pensar nas consequências. “Dizer o que penso” é outro item na lista, mas ela vai modificando sua atitude, até mesmo sem perceber, para “elogiar as pessoas quando elas merecem”. É uma mudança delicada e inspiradora – eu sempre quis que as pessoas elogiassem mais as outras.

Mas o maior trunfo da diretora Isabel Coixet é sua protagonista. Sarah Polley, que nos anos 90 foi uma espécie de “princesinha indie” (e hoje em dia é uma brilhante diretora), sabe muito bem escolher seus papéis. Nas mãos dela, Ann é forte e frágil ao mesmo tempo; decidida e carente. Ela transforma o seu segredo – o fato de não contar a ninguém sobre sua doença – em sua força motora. É uma atuação fenomenal, que eleva tudo à sua volta.

Minha Vida Sem Mim é surpreendentemente leve. Não vai te deixar em frangalhos, e nem quer. As lágrimas, quando surgem, são merecidas. É um pequeno grande filme.

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 Minha Vida Sem Mim (My Life Without Me), um filme de Isabel Coixet

106 minutos Espanha e Canadá 2003

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