descompensada

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Amy Schumer é um fenômeno, ao menos nos EUA. Considerada a comediante mais refrescante da atualidade, ela não tem papas na língua. Amy tem zero receio de discutir vários assuntos delicados relacionados ao universo feminino, principalmente a tal da “body image” – Schumer é uma mulher de medidas muito mais realistas do que o padrão Hollywood, e sabe que é igualmente admirada e criticada por isso. Nunca vi a série da comediante (que tem o sugestivo título de “Inside Amy Schumer”), mas já gostava dela apenas por não ter medo de desafiar os padrões estéticos absurdos impostos às mulheres famosas.

Recentemente, Amy estreou no cinema com um filme estrelado e escrito por ela mesma. “Trainwreck” ganhou no Brasil a maravilhosa (sem ironia!) tradução de Descompensada, após papar mais de 100 milhões de dólares nas bilheterias dos EUA. Nada mal para uma comédia censura “R” (menores de 18 anos só podem ir ao cinema acompanhados de um responsável), cheia de palavrões e sexo. Viva, um novo Missão Madrinha de Casamento, uma comédia igualmente hilária e desbocada! Infelizmente, não é bem o caso.

Amy é Amy (sim), uma jornalista que trabalha numa revista masculina comandada por uma Tilda Swinton grosseira e hilária (a melhor coisa do filme). Mas Amy também é completamente avessa a qualquer tipo de compromisso com o sexo oposto; ela tem vários parceiros sexuais, mas se recusa a dormir com eles. É transar, gozar e cascar fora. Amy é mesmo filha do pai, que anunciou o divórcio quando Amy era criança, fazendo uma analogia insana com bonecas (“Você e sua irmã não querem brincar com a mesma boneca a vida inteira, querem? E se vocês pudessem ter uma boneca diferente por dia?”).

As coisas mudam quando Amy conhece Aaron, um médico bonito, simpático e desengonçado, mas que surpreendentemente ganha o coração da descompensada. E é aí que Descompensada, o filme, começa a decepcionar. O que era uma história refrescante sobre uma mulher descompromissada e feliz vira mais um filme sobre uma pessoa solteira que só vai ser feliz quando entrar numa relação monogâmica e certinha. Os aspectos mais ousados da história – como o fato de Amy não ser necessariamente uma pessoa simpática, ou agradável – são jogados pela janela, sem cerimônia.

Difícil saber por que Descompensada perde a coragem no final. Provavelmente o roteiro de Amy moldou-se ao universo do diretor Judd Apatow, conhecido por suas comédias grosseiras e longas, onde pessoas que começam solteiras e felizes percebem que não eram felizes de verdade solteiras (basta pensar em Ligeiramente Grávidos, onde um casal que não combina de forma alguma acaba ficando junto). Descompensada seria um filme muito mais marcante caso mantivesse a fé em Amy, a personagem, e não decidisse condená-la pelos motivos errados – Amy merece umas lições por ser grossa com a família e amigos, não por ser avessa a compromissos. Fica a esperança de que, no próximo projeto, a talentosa Amy Schumer não tenha medo de apresentar uma visão 100% original, do início ao fim.

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