carta amarela #98 – histórias
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Belo Horizonte, 9 de dezembro de 2014
Queridos amigos,
Então. Outro ano chegando. Na verdade não existe nenhuma grande diferença externamente, nenhuma grande transição. Mas é sempre aquele momento de olhar pra trás. E talvez não levar muito essa coisa de ano novo a sério demais. É interessante estar praticamente entrando nos 30 anos. Minha década dos 20 pareceu muito mais do que 10 anos. Saí de um jovenzinho que nada sabia pra um adulto, talvez ainda um pouco perdido, mas que sabe muito melhor como usar seus talentos e conhecimentos pra viver a vida.
É o tempo em que descobri que oito horas contínuas de sono é um dos grandes prazeres da vida. Principalmente se você acorda não com despertadores, mas com beijinhos no pescoço de alguém que você gosta ou lambidas do seu cachorro.
A gente envelhece. Os olhares vão diminuindo em relação a gente. E é justamente nessa hora em que nossos olhares talvez se dirijam a tudo. A gente fica mais sábio, mais observador. Comecei também a me preocupar menos com o que as pessoas pensam de mim. quando a gente não se irrita com esse tipo de coisa na verdade a gente consegue é saber muito sobre quem está falando sobre você. Você para de deixar conversas se perguntando o que aconteceu.
A gente vai percebendo que ninguém realmente “cresce”. Começamos a ver que quem escreve a maioria daqueles livros na livraria somos nós mesmos ou gente como a gente, não grandes intelectuais. Somos nós sendo os professores, ocupando altos postos, ou não. Mas todos tendo suas inseguranças. Se não no trabalho, em outras partes da vida. Somos nós virando pais. E a gente vê que por mais sábio que a gente acha que é a gente no fundo não sabe de nada. Eternas crianças.
Não existem almas gêmeas. Não daquele jeito que a gente vê nos filmes ao menos. A gente tem um ou mais pares “quase perfeitos” pela vida, mas quer saber? A gente constrói nos relacionamentos, com o passar do tempo, essa “alma gêmea”. Pego alguns gostos do outro, ele de mim, a gente vai aprendendo a se encaixar. Amo ver aqueles casais de velhinhos fofos que já aprenderam até qual posição abraçar o outro pra sentir menos das dores que o próprio corpo já foi tendo ao envelhecer.
A gente aprende a perdoar os ex, ex-namorados, ex-amigos, ex-chefes, mesmo aqueles que te fizeram sofrer muito. No fundo eles estavam tentando também. Ou não, eram idiotas mesmo. Mas a vida é mais simples se você deixa ir, e vive bem com isso também.
Sempre existirão pessoas da sua vida que você nunca vai esquecer, mesmo que tenha passado poucos momentos com elas. Algumas amizades por mais que o tempo, o timing, a distância tenha separado vão ser sempre uma história pra contar. Ninguém é insubstituível, mas algumas pessoas são gratas recordações da vida. A gente nunca sabe o que a vida vai trazer ou levar embora da gente. E é assim que ela é.
Aos 30 você já não quer mais estar com “os legais”, mas estar com aqueles que você gosta e gostam de você. A gente sempre acha nosso grupo, nosso conforto. Vamos perdendo a vergonha de sentir vergonha de tudo. E são justamente esses casos de vergonha que viram as melhores histórias pra contar.
A gente continua, ano após ano colocando objetivos pra nossa vida mesmo que saibamos que não vamos cumpri-los. Talvez por isso eu só coloque mesmo um: ser mais simples. Acho que tenho conseguido. Simplificar a vida me traz das maiores alegrias. E a gente vai deixando pra trás aqueles dramas e delírios da juventude. Simplificar também significa intensidade. E acho que é por isso mesmo que cada minuto vivido pra mim tem sido mais intenso, mais bonito. Parece que algumas ruguinhas vão chegando, os sentimentos se afloram mais e a gente vai sentindo que o tempo vem pra todo mundo e a gente sente ainda mais vontade de aproveitar esse tempo que ainda vem.
A nossa vida vai virando uma história que a gente muitas vezes vai contando pra gente mesmo. As pessoas próximas de verdade vão sendo poucas, mas boas e sinceras. Continuo ano após ano aprendendo a rir de mim mesmo. É uma qualidade que quero seguir levando. Vou chegando na minha carta número 98 pensando em quanta história já compartilhei aqui, queridos amigos. E sei que cada uma foi uma história que valeu a pena ser contada.
Um abraço emocionado de histórias bem vividas, ansiando cada vez mais.
Gui
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