carta amarela #91 – clima

Paris, 18 de setembro de 2014

Queridos amigos,

Uma das coisas que aprendi com meus pais é que arrependimento é um sentimento retardado. Não adianta em nada sofrer por aquilo que eu já errei, por aquela decisão que eu deveria ter tomado e tomei outra. Acho que é por isso que eu sempre tento aproveitar todas as oportunidades possíveis.

Vim pra Paris continuar uma história a dois que era uma parte muito grande e gostosa da minha vida. Cheguei para dar de cara na porta. Uma das coisas que mais me deixou irritado era o fato que eu tinha largado tanta coisa profissional legal no Brasil pra passar esses três meses que no fundo seriam um belo gasto de dinheiro. E aí me vi pensando que eu precisava criar um outro objetivo pra essa viagem. Ela veio, aconteceu, e vai ser melhor se ela for algo que me acrescente e me faça viver melhor.

Uma coisa que aprendi vivendo aqui é que eu preciso sempre olhar a previsão do tempo antes de sair. É normal estar um dia lindo de sol mas que na sombra esteja um vento bem gelado. Aprendi que guarda-chuva, cardigan e echarpe são coisas básicas na bolsa de qualquer parisiense. Aprendi aliás, que existem echarpes pra todos os climas: fininhas pra quando está quente até as mais pesadas de lã pra quando faz frio. Porque é assim, pode estar quente que um vento gelado pode aparecer no final do dia e se você não cobrir o pescoço é sinal de que vai acordar gripado no dia seguinte.

Você só pode escolher a melhor decisão. Ela é a melhor porque esta baseada no que você entende e sabe no momento. A vida passa e a gente aprende mais coisas, fica mais sábio. Isso não faz daquela decisão antiga algo errado, era o que você achava ser melhor na época. Tome as decisões. E siga em frente. Assim como as echarpes sempre ali pra proteger do frio é preciso ter outras coisas à minha volta. Ter amigos e família pra apoiar qualquer momento difícil é essencial. Nos faz lembrar de quão especiais somos quando a gente se sente a pessoa mais frágil do mundo. E é por isso mesmo que é preciso estar sempre ali, firme. Todo o resto é o clima. As tempestades vem e vão, mas o sol sempre virá aquecer também.

É difícil permanecer na tristeza quando existe tanta beleza pra se ver.

Um abraço apertado,

Gui

• Setembro 18th 2014
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