carta amarela #88 – 29
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Belo Horizonte, 7 de agosto de 2014
Queridos amigos,
Aos 28, ri muito. Tenho aprendido pouco a pouco fazer da minha vida mais leve. Deixei perto só aqueles que me tocam o coração. Nas estantes, desfiz de quase todas as minhas coleções. Na cabeceira da cama colei mais palavras. Essas sim eu nunca vou conseguir me desfazer.
Aos 28 finalmente aprendi a dizer não. Isso também faz a vida ser mais leve. Aprendi que eu nunca vou conseguir agradar a todo mundo. Aprendi que eu prefiro mudar o tempo todo. É melhor do que ter a mesma “velha opinião formada sobre tudo”.
Aos 28 exercitei muito mais meu lado artístico. Descobri que aquela minha letrinha emaranhada podia virar bonitos letreiros. Descobri que simples biscoitos podem virar coisas de abrir sorrisos ao serem vistos e comidos. Aos 28 fiquei muito mais quieto que nos anos anteriores e observei que muitas vezes a solidão e o silêncio são excelentes aliados pra gente pensar na gente mesmo e também pra fortalecer alguns vínculos distantes.
Aos 28 aprendi a não estacionar. Quanto mais parado fico, menos objetivos consigo realizar. Lembrei de quando aprendi a pedalar sem rodinhas. E nisso caí e quebrei o braço. E foi de braço quebrado que aprendi a andar de bicicleta. Infelizmente ainda preciso muitas vezes de uma fratura exposta pra aprender algumas coisas da vida. Aprendi que os sofrimentos são importantes pra que eu seja forte, e que por mais que sejam uma dor aguda no peito, eles passam.
Aos 28 trabalhei muito. E a coisa mais gostosa do meu trabalho foi ser parte de momentos felizes das pessoas: Minhas receitas viraram afetos nas mãos de outros; meus bolos eternizaram aniversários e casamentos de muitas pessoas; meus doces fizeram crianças sorrirem com mãos e dentes lambuzadas de chocolate. Me sinto feliz em ser parte de momentos felizes das pessoas, mesmo que talvez elas nem percebam o quanto dediquei pra que todas aquelas amêndoas estivessem impecavelmente enfileiradas sobre um bolo. Aprendi nesse ano a ter uma paciência que nunca tive: trabalhei arduamente num livro que precisei adiar sem definição. Que quando mais a gente se esforça e deixa o próprio tempo ir moldando a coisa com mais afeto é que ela vai ficando mais redondinha. Mas aprendi também que é preciso por limites para que as coisas fiquem prontas e que nenhum trabalho nunca vai ser perfeito. Taí, aprendi a relevar algumas imperfeições também.
Dormi de menos. Pensei demais. Trabalhei demais. Comi demais. Idealizei demais. E sim, realizei demais. Continuei vendo o sol nascer sempre que possível. E me senti grato por isso. Minha vida continua tendo trilha sonora, dessas que nunca terminam. Aproveitei todas as oportunidades possíveis. Senti borboletas no estômago nas poucas vezes em que pude ver meu amorinho. Continuarei não me arrependendo de nada. Depois de um ano e meio quieto, é hora de partir de novo. Com as malas mais leves possíveis que puder carregar. A vida não para. Continuo gostando dela. Como sempre digo, ela também só gosta de quem gosta dela.
Um abraço na beiradinha de entrar nos 29, feliz com essa montanha russa que foram meus 20 anos. Na esperança de uns próximos anos um pouquinho mais calmos. E também cheios de afetos e projetos.
Gui
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