carta amarela #87 – amor e paixão
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Belo Horizonte, 30 de julho de 2014
Queridos amigos,
Do que mais ouço falar de um amor morrer é a comodidade. Talvez seja por isso mesmo que a maioria dos filmes termine ali mesmo, quando o casal consegue finalmente junto e entre numa vida “entediante”. É como se não houvesse mais nada a se contar a partir dali.
É interessante como pra gente o que a gente sente mesmo são os extremos: aquele amor por aquela pessoa impossível; quando amamos de forma desesperada aquele que nos deixou; o amor parece óbvio mesmo pra gente quando aquela pessoa nos deixa eternamente em incerteza. Mas isso seria amor mesmo?
A rotina de um casal pode ser sim o que denominamos amor. Não falo rotina em viver todo dia a mesma coisa, mas no sentido da intimidade e ligação que você faz ao viver muito tempo junto ao outro num convívio diário. É aquele porto seguro, aquela pessoa que te esquenta o pé na hora de dormir. Que te abraça o abraço mais acalentador quando você está um pouco triste. Que briga com você mas que logo vem pedir desculpa. O amor é a construção do dia a dia. Aquele sentimento arrebatador não é amor, é a paixão.
A gente procura um par perfeito, a tal metade da laranja. Mas ó, pra ter alguém que se encaixe perfeitamente com você, só casando com você mesmo. Porque achamos que é no par perfeito que se encontra a felicidade. Aí entra um problema: tanto amor quanto felicidade são sentimentos inflacionados demais. Se procura demais um e outro e esquece que eles estão mesmo é nas pequenas coisas do dia a dia que te fazem sorrir. São discretos ao contrário da paixão e da euforia. Essas pessoas que estão numa eterna busca de felicidade e amor, na verdade euforia e paixão, são como aqueles que vivem a semana em busca do fim de semana. Uma semana chata de trabalho em que não passa o tempo nunca. Só pensando na sexta-feira. Pra viver algumas poucas horas bebendo, comendo. Que deixam somente a ressaca no dia seguinte. Uma eternidade em busca de alguns momentos assim, sendo que talvez o amor e a felicidade poderiam estar ali, numa quietude.
Esse amor que permanece pra mim é um pequeno lembrete de felicidade todos os dias.
Um abraço, desses de fazer corar as bochechas de tão apertado,
Gui
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