carta amarela #85 – grandiosidade

carta amarela #85 – grandiosidade

Belo Horizonte, 9 de julho de 2014

Queridos amigos,

Lembro-me das vezes que um francês amigo veio visitar e me fez várias perguntas: Qual a razão de um restaurante se intitular como o melhor de BH? Aí você entra em outro e ele também se chama de o melhor? O outro o do melhor pão de queijo? Tal parque como o maior da américa latina? Por que tantas pessoas aqui ostentam seu carrão ou mesmo sua roupa de marca?

Não soube muito como responder mas fiquei pensando que complexo é esse que temos em querer ser os melhores. Pode parecer sutil mas existe uma enorme diferença entre ser melhor e ser *O* melhor. Mas é fato que sempre existiu essa disputa por aqui. Lembro que na faculdade tinha medalhas pro melhor aluno. A gente vive sempre fomentando essa disputa de alguma forma. Não tô falando que é coisa só de brasileiro não, a gente vê disso no mundo todo, mas a gente vê isso por aqui o tempo inteiro. Por que precisamos ser a Copa das Copas? Não basta fazer um bom trabalho e que ela saísse muito bem? Não. A gente precisa mostrar para o outro que a gente é melhor e a gente faz melhor.

Sempre tivemos aquela coisa de que fomos acostumados a ser um país atrasado em que a gente tinha um dos únicos grandes trunfos: Sermos melhor que os outros ao menos no futebol. Talvez por isso tanta tristeza. A gente quis com essa Copa mostrar que a gente era melhor em muita coisa. Mas ao menos na minha cidade o que podia ficar de bom dessa Copa para a cidade não foi visto: um metrô que não saiu; um novo modo de transporte público que não melhorou muita coisa; um viaduto que caiu; um aeroporto que não ficou pronto. Coisas que fariam muita diferença para o dia a dia da cidade pós Copa e que espero que fiquem prontos ou melhores um dia. A gente não precisa mostrar pro mundo que somos os melhores, mas a gente podia sim mostrar, pra gente mesmo, que estamos nos tornando melhores em algumas coisas. O que é verdade. Fiquei feliz em ver que muita gente levou ontem na brincadeira. A Copa da zueira, já disseram. Que passou um pouco dos limites com alusões às guerras vividas pela Alemanha. A gente soube também rir da gente mesmo, mesmo que muita gente também não tenha sido assim.

Eu não sou ninguém pra falar o que é certo ou errado. Não sei de muita coisa da vida. Não sou o melhor confeiteiro, nem o melhor ilustrador e nem a pessoa mais sensata do mundo. Mas tento fazer o meu melhor. E me levar menos a sério também. Saber perder faz parte. Quando perdi uma avó vi que ainda havia tempo de aproveitar bastante da outra que ainda está viva. Quando perdi meu emprego arranjei uma nova oportunidade de viver minha vida. Adele perdeu o namorado e criou um dos álbuns mais vendidos dos últimos tempos em cima disso. A gente não precisa perder pra aprender. Mas precisa tirar o melhor do que puder dessa perda. Ser mais humildes. Isso sim é uma dádiva.

Um grande abraço. Sempre verde, amarelo e azul,

Gui

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  • Rogéria diz:

    Show, Gui!
    Bj

  • Simone Streitenberger diz:

    Adorei, Gui! Parece que o esforço só vale se o resultado for perfeito, for o esperado pelos outros, né?
    Não entendi o que houve com a seleção, que se esforçou na Copa, mas sofreu um apagão naquele jogo. Mas…ok. Você nunca teve um dia em que os bolos não cresceram, as tortas ressecaram e os brigadeiros perderam o ponto? Aquele dia que você se pergunta “o que raios acontece comigo?”. Eu também já tive um dia (vários) que meus projetos no trabalho falharam, que implantei um programa jurando que estava perfeito, mas que zicou tudo. São nossos dias de falhas, dias normais, mas que nos fazem sempre crescer e ficar atentos para o próximo dia! A gente nunca quer que esses dias sejam maioria nas nossas vidas, mas eles acontecerem não é o fim do mundo!
    Errar faz parte, saber perder faz parte, e ver o outro ganhar e aplaudir por ter sido melhor, também faz parte! Enobrece a alma! :) Embora criticar seja sempre o caminho mais fácil, infelizmente…

    Adoro seus textos! Acho que escrevi demais. rs Mas gostei muito do que você escreveu, acho que me ajudou a desengasgar, sabe? rs

    Beijos!

    • gpoulain gpoulain diz:

      oi Simone! fico feliz em ler comentários assim! é bem isso. não é só perder coisas maiores, mas a gente comete erros e perde pequenas coisas também todos os dias. o importante é aprender com isso e manter o coração tranquilo. que bom que te ajudei a desengasgar! um grande abraço!

  • Fernanda Mr B. diz:

    Oi Gui!! Já falei isso antes, mas repito: parece mesmo que vc é minha alma gêmea de pensamentos! Adoro suas cartas pq sempre me reconheço nelas. Esse assunto perfeição, de sempre ter que me destacar, sobressair, já me atormentou muito, pois sempre achei que tinha que ser a melhor em td… ai quanto sofrimento… hoje (graças a Deus!) só quero fazer as coisas bem e ser feliz. Custei a me livrar dessa carga pesada que o mundo impõe e que muitas vezes adotamos como filosofia de vida… A-D-O-R-E-I !! Beijos

  • Alessandra diz:

    Maravilhoso Gui, como sempre.

  • Mariana D. diz:

    Essa Copa foi a mais engraçada sem dúvidas…um olho no jogo e outro no “zap zap” hahaha Apesar dos pesares, os Brasileiros sabem bem dar a volta por cima…e achei muito legal também que em geral demos mais risadas do que sofremos com a goleada. Gostei também que a maioria reconheceu o talento e carisma do TIME alemão! Tomara que isto sirva para muita coisa, inclusive politicamente falando…Pra falar a verdade, o que mais me consolou com a derrota foi a possibilidade da mudança política! Vamos aguardar a cenas dos próximos capítulos!
    Como dizem os mais velhos: quando a água bate na bunda a gente aprende a nadar! Ninguém gosta de perder mas tudinho nessa vida tem uma razão que na hora as vezes não entendemos e que mais adiante faz todo sentido!
    Beijo!

  • Mari Gondim diz:

    Eu acho que muito disso vem da nossa baixa auto estima. Queremos ser os melhores em alguma coisa pra ver se compensa o quanto somos ruim em tantas no quesito administração pública e qualidade de vida da população em geral. Agora, essa história de melhor restaurante é só estratégia paia de marketing. Já comeu o rocambole de Lagoa Dourada? O que ele tem de melhor? Lábia! Rs O que acho pior é a nossa mania de achar que somos melhores que os outros por posses e empregos. Estou tentando com todas as minha forças me livrar disso. Aqui é fácil, quando voltar pro Brasil vai ser mais difícil, e convivendo com outras culturas vi outros países que fazem essa “classificação” mais rígida que nós! Simplesmente somos todos diferentes. Não tem nem como comparar!

    • gpoulain gpoulain diz:

      concordo Mari! adoro o rocambolo de lagoa dourada mas o meu também fica uma delícia! haha
      não tem como comparar nada nem ninguém mesmo. um grande abraço!

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