carta amarela #80 – don’t quit
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Belo Horizonte, 13 de maio de 2014
Queridos amigos,
Parece que foi ontem o dia em que eu queria sair do meu estágio numa pâtisserie em Paris. Eu não aguentava mais o dia a dia pesado, eu chorava todas as noites quando chegava em casa. Subia a pé 16 quarteirões de morro no frio de 4 da manhã sonhando que qualquer coisa surgisse pra eu não ter que ir ao estágio. Mas sempre que chegava em casa via um bilhete escrito por uma amiga: “don’t quit”.
Algumas vezes sinto que algumas pessoas me olham como um louco de quase 30 anos que ainda não tem uma carreira profissional muito definida. Sei também que quando conto tudo o que tenho feito e todos os projetos que coloquei pra mim nos últimos anos sinto que aí sim me encaram como um louco de uma vez. É estranha essa sensação de ninguém achar que vai dar certo, porque todo mundo procura uma certa segurança.
As pessoas também esperam que tudo venha rápido. Querem sair da faculdade com cargos grandes. Querem abrir uma empresa e já sair ganhando dinheiro. Num mundo onde tudo é pra ontem, sinto que a gente acaba com a sensação que estamos ficando pra trás.
Existe, lá no fundo, uma voz de insegurança, perguntando se o que tenho feito é bom de verdade, quando os projetos vão finalmente sair ou dar certo e uma sensação ruim de que estou perdendo o meu tempo em tanta coisa que nunca sei onde vai dar. Essa mesma voz de insegurança e também de me comparar aos outros, fez com que eu sempre achasse que aquilo que eu faço não está bom o suficiente.
E é aí que decidi que eu preciso fazer as coisas. Refazer, querer que saia melhor, tentar uma perfeição só faz com que eu continue infinitamente num ciclo que nunca termina, e parece que nunca termino nada do que me propus. É o medo do olhar de reprovação, do que os outros vão pensar…
A gente quer por vezes fazer algo que mude o mundo, que te dê prestígio, que deixe seu nome marcado de alguma forma. Mas isso tudo é efêmero, e pouco importante. Preciso fazer daquele melhor jeito que sei e pronto. Não preciso ser o melhor confeiteiro, nem ter o blog mais legal do mundo, nem escrever poeticamente de um jeito que eu nunca saberei escrever. É preciso ir e fazer. Feito é melhor que bom. E lembrar sempre do bilhete: não desista.
Um abraço forte, numa carta de palavras meio dispersas,
Gui
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