carta amarela #122 – escolhi o sim
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Belo Horizonte, 23 de novembro de 2015
Bello,
Faz tempo que escolhi dizer sim. Disse sim para mim quando encarei o medo e enviei uma carta escrita a lápis em papel pautado arrancado do caderno para o menino que sentava na primeira fileira. Quando eu peguei o guarda-chuva da amiga, saí na tempestade ruas afora e bati a campainha só para dar um abraço. Quando decidi que precisava trocar de profissão. De país. Que eu precisava dizer sim para as oportunidades.
Eu digo sim para mim quando assumo as fraquezas mais escondidas que sinto presas dentro do meu peito. Quando eu perco o que eu mais desejo por sentir mais amor do que segurança, do que força, do que maturidade. Do que todas as palavras que representam a racionalidade. Só não quis mais viver angustiado pelas vezes que eu não pedi um beijo de despedida, não acenei a mão, não disse que estava apaixonado, não sorri, não agradeci pela companhia, não decidi mudar minha vida.
Das coisas que a chegada aos 30 me trouxeram, uma delas foi estar mais tranquilo. Tenho falado menos objetivamente, calado mais, utilizado de olhares e sorrisos e palavras soltas, sem nenhuma agenda maior. Não quero mais pressa de nada. Na verdade existe uma vontade de guardar as coisas boas e não esgotar todos os dias bons que tenho vivido. É por isso que escolhi dizer sim pra você.
Disse sim de verdade não na primeira mensagem. Disse sim na primeira vez que você me abriu um sorriso. Um sorriso que fez seu olhos ficarem pequeninos, que fez a bochecha levantar seu par de óculos. Um sorriso que tomou todo o meu peito. Para me provar de novo e de novo que é preciso abrir a guarda. Que é preciso tentar de novo. E que esse sentimento de pontada no peito é algo que pesa de dentro para fora. Que é por isso que a gente sempre aguenta. Dizem que o não a gente já tem. E entre tantos nãos, sorri de volta e escolhi dizer sim. Entre dias tão nublados e chuvosos, o tempo foi bom pra gente. Obrigado por ter sido o primeiro dentista a me dizer que é necessário comer doces todos os dias. Por me dizer isso com um sorriso de dentes lambuzados pelo doce que fiz pra você. Obrigado pela honestidade. Obrigado pela verdadeira alegria no seu sorriso, pelo encanto do olhar bem tímido, pelo molhado do beijo, pelo afeto do abraço, pelo macio da pele, pelo calor do toque e pela cumplicidade.
Obrigado por ser você, comigo.
Gui
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