carta amarela #113 – respire

carta amarela #113 – respire

Paris, 27 de julho de 2015

Queridos amigos,

Segurei sua mão e deixei que nos guiasse. Entrávamos em cada cour quando alguém saía de um prédio. Olhei, admirei e comecei a ver uma cidade por dentro. Que eu nunca tinha visto. Entre janelas, plantas e bicicletas encostadas no muro. Foi andando pelas ruas que os sonhos murmurados se misturavam ao pó branco do chão, ao calor batendo nas costas, às sombras de vidas e aos idiomas ao redor que nem a gente entende. Ele quis entrar na porta azul e eu disse que amava aquele museu. Ficamos ali. De olhares, sorrisos e palavras soltas, sem nenhuma agenda maior.

Tem coisas que são tão bonitas que a gente se esquece do tempo. Do clima, se falta muito pro outono chegar. O que vai ser de mim, de você, de todos. É gostoso ir conhecendo pessoas novas, lugares novos. Ver os sentimentos brotarem e crescerem como aqueles brotinhos de feijão que eu costumava plantar no algodão quando criança.

Criei um ritual que por vezes na casa da minha mãe pego os álbuns antigos pra ver fotos de um tempo que eu mesmo pouco me lembro. Algumas vezes ela senta comigo, olha algumas e me conta histórias que a gente viveu. Faço perguntas que já sei as respostas só pra ter o prazer de ouvi-las. Pela sensação incrível de me encontrar com a criança que eu fui.

Minha mãe sempre me conta do quanto eu gosto do mar. Acho que é coisa de mineiro. O mar sempre distante. É sempre um encontro. E eu gosto tanto de ver isso, de ouvir essas histórias. É como se eu botasse aquelas conchas grandes no ouvido e ouvisse o som das ondas vir junto da voz da minha mãe. Como se viesse também junto o som das gaivotas que sobrevoam o mar. E é assim, no calor da cozinha com cheiro de café que eu abraço essa criança que sempre vai gostar do mar.

Essa semana vou ter essa oportunidade única que é ver o mar na minha frente. E pensei na minha mãe. Pensei também nas memórias recentes das coisas boas que tenho vivido. De andar nas ruas dando risadas. Da oportunidade de viver um ano com dois verões. De atravessar as ruas perto de Les Halles de mãos dadas. Da promessa de uma receita de bolo em um papel amarelo. Do abraço gostoso de me acordar quase todos os dias do lado de uma amiga querida. Por vezes a gente entra num ritmo de vida tão frenético que a gente se esquece de respirar. De acalmar um pouco o coração, os passos, a vida. Guardo comigo essa sensação eterna do barulhinho bom que vem do mar. Guardo porque sei que preciso dessa calma.

Um último abraço aos 29,

Gui

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  • Caroline diz:

    Ola Gui,
    Tentei pelo email contato, mas nao tive resposta. Restou pedir a ajuda por aqui: escrevo pois cheguei em Beagá, ansiosa pelo livro, e ele não chegou em meu endereço… Você sabe o que pode ter acontecido?

    Feliz celebração e um gostoso recomeço! Esses marcos são muito bons pra nos dar um novo ânimo, pra olhar pra trás e ver que a gente está bem no lugar que devia estar… 😉

    Um beijo e tudo de bom,
    Caroline

    • gpoulain gpoulain diz:

      Caroline, me desculpe! Como estou viajando tenho ficado meio no ar com os e-mails e comentários. Mas semana que vem chego em BH e vou resolver tudinho tudinho! um beijinho,

      Gui

  • Fabiane diz:

    Oi,Gui.
    Voltei de Paris tem um mês de um periodo de 2 meses.Sou apaixonada pela cidade e dessa vez voltei com planos de retornar para morar ano que vem.
    Voltar pela cidade e por um amor.
    Suas cartas e suas fotos no instagran aquecem meu coração todos os dias e me fazem lembrar exatamente pq pretendo voltar.
    É tudo de uma sensibilidade incrivel.
    Bjs

    • gpoulain gpoulain diz:

      ai Fabiane, eu sempre volto com a vontade de continuar por lá. entra ano, sai ano…
      tenho muitos amores guardados ali e uma inspiração ímpar!
      fico feliz que sejam inspirações pra você.

      um grande abraço, com afeto!

  • ANITA diz:

    Oi Gui,

    Eu descobri você e seu blog recentemente em um vídeo da Dani Noce! Depois disso já passei quase uma tarde assistindo a milhares de episódios do “O Chef e a Chata” no youtube e amei! Hoje resolvi entrar rapidinho no blog pra dar uma fuçada e me deparei com este texto lindo que me trouxe uma paz enorme em um momento que eu estava precisando! Quero te agradecer por isso!

    Parabéns pelo seu trabalho! Muitas felicidades sempre!

    Beijos

    Anita

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