carta amarela #108 – alguns amores esperam a sua hora

carta amarela #108 – alguns amores esperam a sua hora

Belo Horizonte, 6 de abril de 2015

Queridos amigos,

Avenida do Contorno, 3 da manhã. A vitrola com o som bem baixinho pra não incomodar os vizinhos. Ouço uma voz suave entoando os últimos versos da última música do álbum:

alguns duram / alguns morrem / alguns amores esperam até a sua hora

O som acaba. A vitrola girando sem o que tocar. Me lembrei do meu último amor. Sempre falei aqui que não acredito em alma gêmea. Existe uma probabilidade múltipla de muitas diferentes combinações maravilhosas nesse mundo com tanta gente. E não temos só um par, mas talvez alguns pares perfeitos pela vida. Que talvez sejam perfeitos naquela sua fase de vida. Quão gostoso e insensato era aquele primeiro amor? De uma época ainda sem preocupações. Mais tarde, de alguém vivendo lutas semelhantes às suas. Daquele outro amor em que as músicas pareciam se encontrar, assim como as sensações e sentimentos.

O surgimento de um novo amor não rotula o antigo como uma escolha errada e nem pior. É isso que uso sempre como estímulo para tentar novamente sempre que acaba. Não me fechar. Nunca, nunca. Com o tempo também vamos ficando mais céticos. Um pouco mais realistas talvez. Fico me lembrando do quanto eu sonhava quando tinha meus 20 anos. De quanto ainda sonhava quando tinha meus 25. E acho que agora beirando 30 eu tenha menos sonhos. É tão simples falar deles quando a gente ainda é jovem, cheios de expectativas pra vida. Espero que seja simples falar deles quando eu tiver 50 ou 60. Talvez sejam eles grandes motivações pra seguir em frente.

Existem algumas pessoas que parecem carregar o peso do mundo nas costas. Algumas, talvez eu me inclua nesse grupo, se perdem por aí, leves pelo mundo. Tem aqueles que esperam. Alguns sempre a partir. Os que somem, os que voltam. Gente que desiste. Outras que resistem. Alguns que persistem. Talvez tenhamos tudo isso dentro de nós também. Quem tem encantos e quem vê encantos tem uma probabilidade muito maior de se apaixonar. Daquela história besta, porém verdadeira, de cuidar do jardim pra atrair as borboletas. Quase sempre quando se apaixonaram por mim foi quando estive nos meus momentos mais felizes. De quando eu estava leve. Quando conseguia ficar bem sozinho. Afinal a solidão é fonte de importantes descobertas quando se quer amar alguém um dia.

Já são quase 4 da manhã. A rua vazia. Um pouco molhada da chuva de mais cedo. Uma janela ainda acesa num prédio logo à frente. Será que alguém também escreve uma carta pra alguém querido?

Nada explica as afinidades acidentais. A gente não sabe muito do que vem pela frente. Tem coisas que não dá pra escolher ou planejar. Todo mundo gosta de sorrisos. Todo mundo gosta de bom humor, de histórias inteligentes. Existem talvez aquelas qualidades universais. E mesmo fora delas, as possibilidades são infinitas. Basta estar aberto. Não perder a capacidade de se surpreender. E de enxergar aquelas pequenas porções de felicidade que a gente encontra por aí. Saber o momento certo de persistir ou desistir de alguém. Como diria um conhecido: Persistir com as pessoas certas é um dom. Desistir das erradas, uma arte.

Um abraço apertado, já tomando um gole de água antes de dormir. Por hora, continuo dormindo sozinho. Apago o abajur. Menos uma janela iluminada na Avenida do Contorno.

Gui

 

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