carta amarela #102 – da chuva e da noite

carta amarela #102 – da chuva e da noite

Belo Horizonte, 7 de fevereiro de 2015

Mon beau,

Chove bastante por aqui. É sábado mas acordei bem cedinho pra trabalhar. Eu precisava sair pra imprimir alguns rótulos de alguns dos meus produtos. Quase não tinha ninguém pela rua. Peguei um ônibus. Tudo estava bem calmo às 8 da manhã. Fui observando cada rua molhada pela chuva que percorreu a noite. Eu praticamente sozinho ali. O silêncio cortado só pelo barulho de chuva na janela e de alguns poucos carros que passavam espirrando as poças pelo asfalto. Vi pessoas passando com guarda-chuvas coloridos. Coloquei meus fones de ouvido e liguei a música no shuffle. Começou a tocar Slow Love.

Pensei em você na mesma hora. Lembrei que a gente conversou sobre essa música ainda nas primeiras palavras que trocamos. É das minhas preferidas de 2014. Posso tê-la amado desde que a escutei pela primeira vez, mas eu sei que amo ainda mais depois do que a gente viveu. Tive vontade de começar a dançar no ônibus, sorri e fiz isso em minha mente. Lembrei que foi graças à essa música também que lhe enviei uma mensagem quando estávamos no Pitchfork, pra dizer que eu queria te beijar. Amo pensar que foi graças a ela que a gente passou nossa segunda noite juntos.

Já estou a caminho de voltar pra casa. Não vejo mais nenhum guarda-chuva colorido pela rua. Vejo galhos de árvores balançando forte com o vento. A chuva continua. Bem fina, mas ao mesmo tempo um pouco forte. A chuva vai lavando algumas coisas. Penso em você com cada vez menos frequencia, mas é inevitável o sorriso que abro no rosto quando lembro que coisas boas aconteceram pra mim quando eu estava ao seu lado. A gente no fundo nunca sabe quando está pronto pra partir pra outra ou quando a gente vai conhecer alguém que nos dê o brilho nos olhos tão gratos ao sentir. Olhei pela última vez praquele desenho lindo que você fez pra mim. E precisei guardá-lo dentro do armário. Não sei o que a vida ainda me reserva, mas é preciso aprender a deixá-la ir.

Quase não nos falamos mais, mas sei que você pensa em mim também. Essa coisa de interromper uma relação quando os dois ainda querem muito é algo difícil para os dois lados. Algumas vezes a culpa não é nossa. É culpa do tempo. Por vezes, da geografia. Você é de poucas palavras, mas de muitas sensações nas entrelinhas. Nunca vou parar de te agradecer por você ter me encontrado no meio de uma noite muito, muito escura. E me feito ver que existiam estrelas pra iluminar. É com elas que sigo. Não tenho mais medo do escuro pois elas estarão sempre ali.

Um abraço bem forte, esperando o sol e os pássaros cantando Slow Love pra mim aqui. E pra você também, onde quer que esteja.

Ton brésilien

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