blue jasmine

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Os filmes mais recentes de Woody Allen podem todos, em maior ou menor grau, ser classificados como “leves”. Meia-Noite em ParisPara Roma com AmorVocê Vai Conhecer o Homem dos Seus SonhosTudo Pode Dar Certo: todos são levados basicamente em tom de comédia, alguns criando questões pertinentes (Meia-Noite…) e outros não dizendo nada relevante (Você Vai Conhecer… é um dos filmes mais esquecíveis que Woody realizou). Blue Jasmine, a obra mais recente do diretor, quebra a sequência. Pode ser visto como uma comédia, mas é um filme amargo, na linha de dramas como Crimes e Pecados – feito há quase 25 anos!

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A Jasmine do título é uma “mulher rica” que vê seu mundo desmoronar após o marido ser preso por sonegação. Sem eira nem beira, Jasmine precisa ir morar em San Francisco com a irmã, Ginger – divorciada, dois filhos, e tranquila com sua vida classe média. O filme alterna entre o choque provocado pela nova realidade de Jasmine e flashbacks com a existência anterior de Jasmine, suas mansões, presentes caros do marido, até as coisas à sua volta começarem a ruir.

Claro que é possível rir das dificuldades e surpresas de Jasmine nesse mundo tão “convencional” em que ela é obrigada a viver – ela tem que aceitar um emprego como recepcionista! precisa de aulas de informática para saber lidar com um computador! -, mas o desgosto de Jasmine é tão grande que a amargura dela passa por cima de tudo. Não apenas o desgosto: o que torna Jasmine fascinante (embora ela seja fútil e odiosa em vários momentos) é sua absoluta falta de noção com a realidade, com uma vida prática. Jasmine quer pairar sobre essa classe média que domina os Estados Unidos. Ainda que pobre, ela continua se achando melhor que eles. Ela é tão alienada que caminha para a loucura (ela sofreu um colapso nervoso quando o marido foi preso).

Um estudo de um personagem tão complexo não iria longe se não fosse por um(a) intérprete excepcional. E Cate Blanchett aqui é algo. Eu poderia escrever doze parágrafos apenas comentando essa performance magnífica. Claro, a essa altura a gente não espera nada diferente de Blanchett. Mas numa carreira entupida de altos (preciso citar? Entre meus favoritos: ElizabethNotas Sobre um EscândaloParaísoVida BandidaO AviadorNão Estou Lá), Jasmine é provavelmente o Everest. Impossível descrever o que ela atinge com esse filme. Basta pegar um exemplo: Jasmine finalmente conhece Chili, o novo namorado da irmã. Sentados numa mesa à beira-mar (os três e um amigo de Chili), Jasmine mal consegue esconder o desconforto por estar ali. E, embora Jasmine esteja sendo grosseira e rude, é impossível não se identificar com o que Blanchett passa: incômodo, raiva, frustração, até mesmo desgosto. É quase como ser tocado por alguém a quem não demos essa liberdade. E embora três pessoas sentadas à mesa sejam bem-intencionadas, acabamos sentindo empatia pela quarta. Porque Blanchett é poderosa assim.

Pensando em tudo isso, estou revendo o que disse acima. Será que Blue Jasmine pode ser visto como uma comédia? Eu pessoalmente ri muito pouco, mas na sessão em que estava tinha gente rindo bastante (e o trailer vende o filme como uma comédia). Portanto deixo a opção em aberto. Mas quando eu saí da sala de cinema, o que ficou comigo foi um gosto amargo, forte, impactante como a cena final de Jasmine. Cena que eu não vou esquecer tão cedo.

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Blue Jasmine (Blue Jasmine), um filme de Woody Allen

98 minutos EUA 2013  em cartaz nos cinemas brasileiros desde 15/11

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  • Adorei a resenha sobre o filme! Também achei Cate excelente no papel, a cena final é msm desconcertante… É triste pensar que uma pessoa pode chegar a esse nivel de alienação e ter tanta dificuldade para se adaptar a uma nova realidade. Aliás, acho ótimo filmes que mostram que o dinheiro em excesso e a vida “fake” que ele traz realmente não fazem bem ao ser humano!

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