birdman ou (a inesperada virtude da ignorância)

birdman ou (a inesperada virtude da ignorância)

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O título completo de Birdman é Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). É um nome pretensioso, belo e divertido, tudo ao mesmo tempo. Assim como o próprio filme, uma das coisas mais inclassificáveis e originais dos últimos tempos – e que acaba de estrear no Brasil, no embalo de nove indicações ao Oscar.

Riggan (Michael Keaton) é um ator ensaiando (em mais de um sentido) um retorno à fama, dirigindo/escrevendo/atuando em uma peça de teatro com significados bastante pessoais pra ele. Vinte anos antes, Riggan estava no auge da fama graças à série de filmes Birdman, onde ele interpretava o super-herói do título. Riggan vê no teatro sua chance de largar o fantasma de Birdman e surgir como um “ator de verdade”, reconhecido pelo talento e não por ser o cara em uma fantasia de homem-pássaro.

O óbvio e ululante paralelo com a vida real é que, assim como Riggan, Michael Keaton pulou para a estratosfera da fama com os dois primeiros filmes Batman, dirigidos por Tim Burton – filmes que, assim como os fictícios filmes Birdman, foram feitos numa época em que histórias de super-herói eram apostas arriscadas no cinema e não o meio mais óbvio de fazer dinheiro, como acontece hoje. Numa sequência inspirada, Riggan e seu agente Jake (Zach Galifianakis) discutem nomes de atores de prestígio para a peça: “Woody Harrelson” – “Está fazendo Jogos Vorazes”; “Michael Fassbender” – “Está fazendo X-Men”, e assim por diante. Filmes de super-herói viraram máquinas de dinheiro e também chamariz para bons atores. O pobre Riggan estava muito à frente de seu tempo.

Mas o que faz de Birdman um filme completamente peculiar não é a história. O diretor Alejandro G. Iñárritu (de 21 Gramas e Amores Brutos) escolheu filmar como se tudo acontecesse num take único, sem cortes, quase todo dentro de um grande teatro. O resultado – com a importante colaboração de uma trilha sonora feita apenas de solos de bateria – é um filme jorrando energia propulsora, que não para nunca, que se move não como cinema, mas como música, e ao mesmo tempo tem uma carga enorme de teatro. É um híbrido bizarro mas que funciona perfeitamente.

Não deixa de ser surpreendente que um filme tão idiossincrático esteja arrebatando não apenas críticos como plateias do mundo inteiro (Birdman atualmente encontra-se no top 250 dos melhores filmes de todos os tempos, de acordo com os usuários do site IMDb). Claro que também vai ter gente incomodada e extenuada com a energia incansável, os diálogos acelerados, os solos de bateria. Mas uma coisa é difícil negar: como o elenco é magnífico. Ao lado de um Michael Keaton perfeito, temos também um Edward Norton hilário como um ator genial e intragável, Emma Stone como a filha, Naomi Watts e Andrea Riseborough como duas colegas de elenco, Amy Ryan como a ex-mulher de Riggan. Todos ótimos, todos contribuindo para que, ao final do filme, a sensação que fica no espectador é a de “caramba, nunca vi nada parecido com isso”.

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  • Francielle diz:

    Também vi o filme e sabe… me fez pensar bastante sobre o drama que nós estamos vivendo nos dias de hoje essa urgência quase instantânea de ver e ser visto ,de amar e ser amado e principalmente de ser admirado quase que o tempo todo. Parece que as pessoas tem medo da invisibilidade.
    Adriano adoro o que você escreve sobre filmes aqui no site. Bjoss e continue sempre por aqui.

  • Mundobrel diz:

    O post está ótimo. Esse filme entrou para a minha lista de favoritos. Amei os solos de bateria como trilha sonora.
    Abraçoo!

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