wanderlust #1 – lot e aveyron – o lugar
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Wanderlust é aquele desejo forte e inato de andar e viajar por aí. Conheço muitas pessoas que se sentem assim. Acho que a gente sempre começa as viagens dentro da gente mesmo. Sinto um brilhar nos olhos, uma inquietação grande em conhecer coisas que nunca vi ou mesmo ver pequenas novas coisas em caminhos que já passei diversas vezes.
Meu primeiro destino a contar por aqui foi o destino do coração: Ano passado fui conhecer a terra onde meu amorinho nasceu e cresceu, onde moram meus sogros tão simpáticos, cunhada, cunhado, sobrinho e a sobrinha mais risonha da vida, que só me chama de “monsieur guiômê” e que só foi me dar um abraço daqueles mais gostosos depois que eu fiz um bolo pra ela.
Eu nunca tinha ouvido falar muito dessa região da França, no sudoeste, mas fui descobrir que era ali que se encontrava muitas das preciosidades gastronômicas que comi enquanto em Paris: é dali que nasceu um dos queijos mais famosos do mundo, o Roquefort, que infelizmente não consegui conhecer a cidade nem a produção do queijo – fica pra uma próxima. É dali que vem dois dos queijos mais deliciosos do mundo pra mim: o Tomme e o Cantal. É com esses queijos que é feito o famoso aligot, comida típica da região. Precisei contar aos aveyroneses que o chef mais famoso do Brasil faz o aligot em seu restaurante, mas usando queijo gruyère. Ficaram ofendidíssimos e já anotaram o D.O.M. na lista de restaurantes pra nunca ir na vida!
Mas antes de falar da comida em si, queria falar da beleza da região. Muito se fala na Provence, mas achei essa região muito mais charmosa. Quando postava fotos no instagram me diziam: parece que você está num filme da Disney! E a sensação era um pouquinho essa mesmo. Cheguei na região de trem. Não existe TGV (o trem rápido) de Paris a Figeac, então é preciso pegar um trem normal mesmo, partindo de Paris. São cerca de 6 horas de viagem, partindo da Gare de Austerlitz. De avião é mais rápido, dá pra pegar um vôo Paris a Rodez, a maior cidade da região.
Figeac é uma cidade gostosa pra dar uma volta a pé, descobrir a grande versão da Pedra de Roseta que existe em um dos cantinhos da cidade. É que foi lá que nasceu Jean-François Champollion, o linguista que conseguiu decifrar a Pedra de Roseta (que fica no British Museum, em Londres). Dali é perto de ir a Rocamadour, o segundo lugar mais visitado da França (fora Paris) depois do Mont Saint-Michel: uma cidadezinha incrustada numa rocha que atrai milhões de peregrinos que querem além de visitar a Virgem Negra, fazer o mesmo caminho de Santiago de Compostela: subir os 216 degraus de joelhos até a cruz de Jerusalém que fica no topo de tudo. Apesar de não ligar para a parte religiosa, Rocamadour é impressionante: em uma colina vertical construíram toda a estrutura da cidade, que se mistura entre casinhas, igrejas. É impressionante como a gravidade nunca colocou uma estrutura tão vertical no chão.
Aproveitei também pra conhecer a cidade preferida dos franceses, numa eleição feita em 2012: Saint-Cirq Lapopie. Antes de mais nada é preciso dizer que é necessário um carro pra chegar nessas cidadezinhas menores. Não se pode entrar carro nelas, elas costumam ter estacionamentos próximo à entrada, e por ali se anda a pé. Acho que isso até contruibui pra sensação gostosa de estar passeando em algo que vem de tempos muito antigos. Saint-Cirq é dessas cidades que praticamente tem só uma rua, você vai andando, vendo os restaurantezinhos, os pequenos lugares de artesanato, cachorros e crianças correndo pela rua. E vai subindo até um mirante de onde dá pra ver muito da região, lugar de agricultura. Aproveitei pra comer Cassoulet ali, outro prato famoso francês que é típico do sudoeste da França. Mas conto mais sobre isso amanhã.
Najac é linda, linda. tem um castelo que vale a visita. É legal observar que nessas pequenas cidades muito antigas a gente vai atravessando uma rua só, longa, cheia de casinhas de pedra, para chegar em algum lugar como aqui se chega ao castelo. São ruínas de uma outra época, sempre lugares onde se tem vistas incríveis – não é atoa que eram construídos em lugares altos para a própria proteção e vigia do lugar. Algo que achei incrível é que na entrada das cidades da região costuma ter uma placa que indica o quão florida a cidade é. Cada cidade tenta ser a mais florida da região e cada cidadão tenta ter a casa mais florida da cidade também, e isso é algo maravilhoso de se ver. Muitas casas de pedra, cobertas por flores onde for.
Foi em Belcastel onde comemorei aniversário de namoro. É das mais românticas das cidadezinhas. Por algum acaso, era dia de casamento na igrejinha de lá. A cidade fica toda de um lado do rio, subindo o morro. Atravessando a ponte para o outro lado, a igreja. E muita felicidade naquele nublado dia de verão por ali. Quis sentar na beirada da janela do restaurante pra poder ver a vida feliz no casamento do outro lado do rio.
Atravessávamos as estradas de carro, ouvindo a rádio RFM, uma rádio nostálgica francesa que toca muito mais coisas dos anos 60, 70, 80 e 90 do que coisas atuais. Faltou muito pra eu conhecer tudo o que tinha pra conhecer no Lot e Aveyron, mas preferi aproveitar os dias como eles vieram: nos dias de sol quis sentar entre os campos floridos na beirada da estrada pra desenhar um pouco. Comer de tudo o que eu encontrasse pela frente.
Não existem muitos museus ou grandes atrações turísticas por ali. A grande atração mesmo, pra mim, era poder sair andando por todas as ruelas que existissem em cada cidadezinha que passei. Era poder passar um dia em casa com a família do namorado na beirada da piscina. Brincar um pouquinho com a pequena Cali. Ouvindo as histórias sábias do senhor André, passear pelos mercados pra descobrir coisas que eu nunca tinha visto. Aproveitar aquele sol de verão que saía bem cedinho e só se punha por volta de 9 da noite. Descobrir um local que eu pouco tinha ouvido falar na vida, mas que me fez descobrir novas coisas para as minhas próprias vivências. E ouvir de uma boca risonha cheia de bolo: “monsieur guiômê, vous voulez boire du thé ?”
Nenhum destino é certo no mundo. Mas destinos podem ser os certos pra sua vida em certos momentos. Em viagens somos eternos solitários em frente a um mundo novo, a experiências novas que nos fazem ver nossas próprias nuances internas. É como a convivência. Acho que nessa viagem aprendi que sempre que viajo volto sendo alguém melhor. Com novos conhecimentos. Novas experiências. E também, com menos medos nessa bagagem pesada que carrego sobre as costas.
wanderlust #1
parte 2: a comida
parte 3: receita de truffade
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