sobre mad max: estrada da fúria e o mundo

sobre mad max: estrada da fúria e o mundo

Neste fim de semana tive a chance de assistir Mad Max: Estrada da Fúria mais uma vez nos cinemas. Não preciso escrever nem mais uma linha sobre como eu amo o filme; não só já fiz um post sobre ele, mas também é meu filme favorito de 2015. O que me causou ainda mais impacto nessa terceira vez assistindo a obra foi a importância política de um filme assim no momento atual em que vivemos.

Todo dia leio uma notícia ruim relacionada a mulheres sofrendo abusos. Estudantes sendo abusadas em festas de universidades em São Paulo e os responsáveis não sendo punidos. Uma cantora independente finalmente consegue coragem suficiente para denunciar um cantor por estupro e o cantor responde dizendo que o que aconteceu foi um “momento romântico consensual”. Uma cantora muito mais conhecida (Kesha) tendo que lutar por sua carreira no tribunal contra o produtor que ela alega tê-la estuprado e dopado por anos. As notícias não param por aí. São mulheres ganhando menos que homens, mulheres sendo bolinadas no transporte público, mulheres tendo vídeos íntimos divulgados quando terminam o relacionamento com homens babacas.

Tudo isso veio à minha mente enquanto eu assistia Mad Max: Estrada da Fúria. É emocionante – literalmente – ver um diretor pegar o gênero mais masculino de todos, o filme de ação, e transformá-lo numa ode às mulheres, numa crítica fenomenal ao patriarcado, numa ridicularização de homens que se acham no direito de tratar mulheres como objetos (“Não danifique a mercadoria!”, um dos soldados do filme diz, referindo-se às noivas/escravas do vilão Immortan Joe). Em mais de uma cena em que as mulheres escapam da perseguição dos soldados, o que sobra é um imbecil irritado dando tiros inúteis pro alto, um “macho” de pau na mão dando piti porque “suas” mulheres o abandonaram.

E nos raros momentos em que as mulheres são vencidas, as imagens são também fortes: um carro passa por cima de uma guerreira, com um patriarca nojento no banco de passageiro. Ali eu vejo toda mulher que ousou levantar a voz, reclamar, e acabou sendo silenciada. Não é uma cena fácil.

E o filme faz sua celebração das mulheres sem cair no esquema fácil de “nenhum homem presta”. Tanto Max quanto Nux (a princípio um inimigo, pois faz parte do exército de Immortan Joe) são recebidos com desconfiança compreensível, mas logo são aceitos como pessoas do bem que são. Imperator Furiosa, a grande heroína do filme, salva a vida de Max inúmeras vezes; Max faz o mesmo por ela. E Nux acaba sendo de vital importância para a história – o soldado que percebe não fazer parte do grupo dos dominadores, mas sim dos escravos subjugados.

Quando Immortan Joe descobre que “suas” mulheres fugiram, o chão e as paredes da alcova estão pintados com várias frases-protesto. A mais impactante é “we are not things” – nós não somos coisas. Em tempos de “machistas não passarão” e cada vez mais vozes se levantando contra o abuso, a cena é atualíssima. Hoje à noite tem Oscar e provavelmente O Regresso vai ganhar. Honestamente, não importa (e eu gosto do filme). Mad Max: Estrada da Fúria é o filme mais importante da temporada. Não somente o melhor, mas também o mais necessário.

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