o marido da cabeleireira

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Um dia desses percebi que, mesmo com toda a “aura” francesa que permeia esse site – o fato de o Guilherme ter morado em Paris, e ser apaixonado pela cidade -, ainda não escrevi sobre nenhum filme francês (tá, Ratatouille se passa na França, mas não é a mesma coisa). Decidi então falar sobre o meu filme francês favorito: O Marido da Cabeleireira (Le Mari de la Coiffeuse), de Patrice Leconte.

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O Marido da Cabeleireira é um filme pequeno em mais de um sentido. Começando pela duração – menos de uma hora e meia! (Às vezes brinco com meus amigos dizendo que todo filme deveria durar apenas 80 minutos) É pequeno também na trama: na maior parte do tempo temos apenas dois personagens – os dois citados no título – e um espaço, o salão de beleza.

Antoine (Jean Rochefort) descobriu o desejo sexual quando, pré-adolescente, apaixonou-se por uma ruiva e voluptuosa cabeleireira. Mesmo adulto, Antoine mantém o desejo de se casar com uma – e é “sábio o suficiente” para realizar sua primeira fantasia sexual e contentar-se com ela, como li numa crítica antiga do filme. A realização vem personificada na figura da belíssima Mathilde (Anna Galiena), a solitária cabeleireira que aceita o inusitado pedido de casamento de Antoine.

Para Antoine e Mathilde, a vida não precisa de mais nada: ela trabalha, ele ajuda nos serviços necessários, e pronto. Os dois não gostam de viajar, dizem não precisar de amigos, se satisfazem um com o outro. Antoine vive num estado de eterna paz, contemplando Mathilde, suas curvas, seu cabelo. Não é à toa que o filme intercala cenas do Antoine adulto com flashbacks de sua infância: o Antoine marido de Mathilde é uma criança que tem o que sempre desejou, e não precisa de mais nada do mundo. A felicidade dele explode em momentos estupendos de dança, quando Antoine executa coreografias desengonçadas e maravilhosas ao som de música árabe.

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Algumas dessas cenas funcionam como mágica: rimos não porque Antoine dança de modo desengonçado, mas porque ele está tão feliz que o sentimento contagia.  O Marido da Cabeleireira extrai graça de momentos inusitados e mundanos, como quando Antoine hipnotiza com sua dança um garoto que odeia cortar o cabelo (filho de uma mãe que não hesita em dizer, na frente dele: “Ele é adotado. Pior erro da minha vida”. Salve o humor ferino!)

O filme exala um perfume sensual – a câmera de Leconte é tão apaixonada pelo corpo de Galiena quanto Antoine é – e também leve, como nos belos flashbacks que mostram o jovem Antoine dançando e brincando na praia. É um filme muito divertido quando quer ser, mas também muito triste quando quer ser. E O Marido da Cabeleireira é as duas coisas. E também é palco de uma das atuações mais esplêndidas que já assisti: a de Jean Rochefort, capaz de elevar qualquer espírito quando está feliz e de quebrar mil corações com seus silêncios. É uma pérola de atuação em uma pérola de filme – que sempre faço questão de recomendar para todo mundo. E se mesmo assim alguém não estiver interessado, eu digo: dura somente 80 minutos…

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O Marido da Cabeleireira (Le Mari de la Coiffeuse), um filme de Patrice Leconte

82 minutos / França / 1990

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