o grande gatsby

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Li O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, pela primeira vez há algumas semanas. O que primeiro me chamou a atenção foi o tamanho do livro: é tão curto! Mas dentro daquelas páginas está uma obra intrigante. Por mais que eu não tenha morrido de amores pelo livro, o modo como temas antagônicos se sobrepõem é fascinante: a superficialidade das festas e luxos revelando uma crítica distante e ao mesmo tempo compreensiva do mundo dos ricos; um caso de amor supostamente profundo e tocante que se revela um equívoco.

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O responsável pela mais recente adaptação do clássico para as telas é o diretor australiano Baz Luhrmann. Poucos diretores da atualidade parecem ser mais adequados para a tarefa: Luhrmann adora um auê, festas, plumas, hedonismo. E a primeira metade de O Grande Gatsby versão 2013 é tudo aquilo que Moulin Rouge havia mostrado: após um começo lúgubre, temos um ritmo acelerado, edição insana (levei um tempo pra me acostumar com os cortes), o contraste entre os anos 20 mostrados na tela e a música contemporânea. É uma festa para os olhos e ouvidos, e Luhrmann consegue passar a mesma sensação que tive enquanto lia as descrições das festas: Quero-um-drinque-agora.

Muita gente acusou o filme de ser superficial, preocupado apenas com o espetáculo. Mas achei a obra bastante próxima do livro. É sim superficial – mas assim como o livro, o efeito vem depois. Apenas após a última página é que realmente assimilei o peso dos temas de Fitzgerald, como a profundidade se revela em meio a esse jogo de espelhos. Com o filme é parecido: a profundidade surge quase sem que se perceba. Em momentos pequenos e decisivos, como num confronto entre Gatsby (Leonardo DiCaprio, perfeito para o papel) e Tom Buchanan (Joel Edgerton) que define o destino de todos.

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O filme também é tocante em momentos inesperados, graças em boa parte à trilha sonora. O modo como Luhrmann utiliza a canção “Young and Beautiful”, de Lana del Rey, enche uma cena alegre de melancolia: ouvimos basicamente a voz da cantora, preenchendo os vazios entre as falas de Gatsby e Daisy (Carey Mulligan). Fiquei até decepcionado quando ouvi a música fora do filme. Não é a mesma coisa. Melhor destino tem “Together”, do The xx, que para sempre associarei com a famosa “luz verde” da história.

No fim das contas, O Grande Gatsby provavelmente vai agradar quem gosta de Moulin Rouge e do estilo feérico do diretor. Não foi um filme que amei; volta e meia Luhrmann força a barra, como mostrando a todo momento os “olhos que não piscam” em um anúncio à beira da estrada. Mas a imagem é forte – e imagens como essa o filme tem aos montes. O resultado pode variar de acordo com a opinião do espectador, mas “medíocre” é uma palavra que não cabe aqui. E mediocridade é tudo que Jay Gatsby não queria para sua vida. Portanto, eis um filme digno de Gatsby.

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O Grande Gatsby (The Great Gatsby), um filme de Baz Luhrmann

142 minutos Austrália e EUA 2013 estreia nos cinemas brasileiros dia 7 de junho de 2013

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  • Juliana diz:

    Meu filme mais esperado esse ano! Fiquei ainda com mais vontade de ver, amo Moulin Rouge!

  • Moulin Rouge me dá tanto nervoso. São tantos erros históricos! Nicole de sutiã e barriguinha de fora não dá! E eles ainda destroem com a imagem de Toulouse Lautrec, meu ídolo. Acontece o mesmo?

    • gpoulain diz:

      Clarissa, eu ainda não vi o The Great Gatsby, mas se você não gosta de Moulin Rouge acho que não vai gostar aqui também não. Aqui não existe nenhum personagem real, são todos do livro, mas a história se passa nos anos 20, e o Luhrmann cria sim seu mundo da forma que ele imagina, com grandeza, tirando várias liberdades. Nesse filme por exemplo, 40 dos figurinos foram feitos pela Miuccia Prada, que simplesmente adaptou peças que ela desfilou há poucos anos pra temática do filme. A roupa que Daisy usa numa festa (a mesma que ela está no cartaz do filme), junto a uma tiara e jóias Tiffany, por exemplo, é toda feita em acrílico, da coleção de primavera/verão 2010. Nunca teria um vestido assim nos anos 20, apesar de no filme a mistura me agradar muito. A trilha foi toda organizada pelo Jay Z, que incorporou o lado Jazz da história do livro com o Hip Hop atual. Eu acho essa mistura que o diretor faz é incrível, mas se te dá nervoso…

    • Clarissa, falando um pouco mais além do que o Guilherme já disse: o filme começa com cenas dos anos 20 – jazz, pessoas animadas bebendo como se não houvesse amanhã – ao som de “No Church in the Wild”, do Kanye West + Jay-Z. Daí dá pra ter uma ideia do que vem pela frente.

      Não acho que o que o diretor faz sejam “erros históricos”, e sim liberdades de adaptação. Não sou dos maiores fãs de Luhrmann, mas reconheço que ele ao menos tem um estilo bastante original. Gosto dessa mistura do moderno com o antigo (outro bom exemplo é o que Sofia Coppola fez em “Maria Antonieta”).

      • gpoulain diz:

        É, acho Maria Antonieta um bom exemplo. Eu já vejo alguns filmes sabendo das liberdades que certos diretores tomam. Eu brinco que tenho vontade de “viver no filme Maria Antonieta”. É tudo tão lindo, incrível, com tênis converse no meio dos sapatos da época, macarons Ladurée que foram inventados anos depois, as roupas e cabelos enormes parecem ser uma diversão. Já ano passado assisti um filme francês (que até estreou aqui no Brasil recentemente no festival Varilux) que se chama “Les Adieux a la Reine” que mostra as duas últimas semanas da corte antes da Revolução Francesa. O filme dá arrepios pelo modo como é mostrada a vida. As pessoas parecem esgotos ambulantes. A rainha está toda picada pelos mil pernilongos do Palácio de Versalhes. O verão francês faz as mulheres suarem com tanta roupa e perucas. A protagonista, a criada da rainha, passa as duas semanas do filme naquele calorão usando a MESMA roupa. É de dar nojo. Aí a gente vê mesmo como era a realidade da época. São dois filmes com os mesmos personagens, mas completamente distintos e acho todos os dois válidos em serem assistidos, cada qual a seu modo.

  • cabaret | diz:

    […] local: Berlim no início dos anos 30. O hedonismo rola solto, num clima Grande Gatsby mais decadente e bem mais sexual. No cabaré do título, o Kit Kat Club, Sally Bowles (Liza […]

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