O responsável pela mais recente adaptação do clássico para as telas é o diretor australiano Baz Luhrmann. Poucos diretores da atualidade parecem ser mais adequados para a tarefa: Luhrmann adora um auê, festas, plumas, hedonismo. E a primeira metade de O Grande Gatsby versão 2013 é tudo aquilo que Moulin Rouge havia mostrado: após um começo lúgubre, temos um ritmo acelerado, edição insana (levei um tempo pra me acostumar com os cortes), o contraste entre os anos 20 mostrados na tela e a música contemporânea. É uma festa para os olhos e ouvidos, e Luhrmann consegue passar a mesma sensação que tive enquanto lia as descrições das festas: Quero-um-drinque-agora.
Muita gente acusou o filme de ser superficial, preocupado apenas com o espetáculo. Mas achei a obra bastante próxima do livro. É sim superficial – mas assim como o livro, o efeito vem depois. Apenas após a última página é que realmente assimilei o peso dos temas de Fitzgerald, como a profundidade se revela em meio a esse jogo de espelhos. Com o filme é parecido: a profundidade surge quase sem que se perceba. Em momentos pequenos e decisivos, como num confronto entre Gatsby (Leonardo DiCaprio, perfeito para o papel) e Tom Buchanan (Joel Edgerton) que define o destino de todos.
O filme também é tocante em momentos inesperados, graças em boa parte à trilha sonora. O modo como Luhrmann utiliza a canção “Young and Beautiful”, de Lana del Rey, enche uma cena alegre de melancolia: ouvimos basicamente a voz da cantora, preenchendo os vazios entre as falas de Gatsby e Daisy (Carey Mulligan). Fiquei até decepcionado quando ouvi a música fora do filme. Não é a mesma coisa. Melhor destino tem “Together”, do The xx, que para sempre associarei com a famosa “luz verde” da história.
No fim das contas, O Grande Gatsby provavelmente vai agradar quem gosta de Moulin Rouge e do estilo feérico do diretor. Não foi um filme que amei; volta e meia Luhrmann força a barra, como mostrando a todo momento os “olhos que não piscam” em um anúncio à beira da estrada. Mas a imagem é forte – e imagens como essa o filme tem aos montes. O resultado pode variar de acordo com a opinião do espectador, mas “medíocre” é uma palavra que não cabe aqui. E mediocridade é tudo que Jay Gatsby não queria para sua vida. Portanto, eis um filme digno de Gatsby.
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O Grande Gatsby (The Great Gatsby), um filme de Baz Luhrmann
142 minutos Austrália e EUA 2013 estreia nos cinemas brasileiros dia 7 de junho de 2013