nebraska

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Recentemente um amigo meu disse, comentando sobre Até o Fim, com Robert Redford: “Adoro ver homens velhos no cinema”. Gostei tanto da frase que não desenvolvi o assunto, nem perguntei o porquê: quis acreditar que, assim como eu, ele estava se referindo ao fato de que volta e meia o cinema traz idosos como protagonistas que, não raramente, carregam a idade cheios de dignidade. (Robert Redford em Até o Fim é um ótimo exemplo)

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Woody Grant (Bruce Dern), o protagonista de Nebraska, não é nenhum retrato de dignidade. É teimoso, bebe mais do que deveria, e em vários momentos parece até gostar do fato de que não consegue ouvir muito bem. Quando Woody recebe uma carta dizendo que ele tem direito a um milhão de dólares, ele decide ir até o estado de Nebraska para reclamar seu prêmio. Nem que tenha de ir a pé, já que sua mulher turrona (June Squibb) não quer nem saber dessa conversa.

Claro que o milhão de dólares é um golpe, um esquema criado por uma editora à la Reader’s Digest. David (Will Forte), um dos dois filhos de Woody, percebe o esquema mas mesmo assim decide levar o pai na viagem – afinal, “qual o mal em deixá-lo viver uma fantasia por uns dois dias?”, como ele mesmo diz. No caminho, eles decidem parar na cidadezinha onde Woody morou por anos. Linguarudo, ele acaba contando sobre o “prêmio” – e a ganância de alguns moradores acaba criando confusões inesperadas.

Nebraska é uma comédia, mas uma comédia amarga. É o que podemos esperar de Alexander Payne, diretor de filmes como Sideways, Os Descendentes e As Confissões de Schmidt. Em todos os seus filmes, Payne não deixa os protagonistas escaparem do papel de ridículo de vez em quando; mas ele também tem um amor imenso pelos seus personagens. É fácil a princípio não gostar de Woody. Mas à medida em que o filho David vai descobrindo fatos e personagens do passado do pai, ele vai vendo camadas de desilusão e tristeza por baixo da fachada teimosa.

Os personagens de Nebraska são quase uma versão norte-americana dos caipiras de Minas Gerais, minha terra natal. Talvez por isso eu tenha sentido tanto carinho pelo filme. Ou talvez porque Woody, em alguns momentos silenciosos, tenha me lembrado do meu pai. Ou talvez porque a dignidade dele está lá sim – porém escondida. E nos dez ou quinze minutos finais, David finalmente entende melhor o pai, proporcionando um dos desfechos mais bonitos que vi em um bom tempo (Alexander Payne é especialista em finais incríveis – basta lembrar da última cena de As Confissões de Schmidt).

E se eu falei pouco da parte realmente engraçada do filme, basta encerrar esse texto com duas palavras: June Squibb. Ela rouba todas as cenas em que aparece, principalmente em uma visita ao cemitério intercalada por comentários sobre os mortos: “Aqui está a irmã de Woody. Ela morreu em um acidente de carro aos 19 anos. Ela era uma vadia!”

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Nebraska (Nebraska), um filme de Alexander Payne

115 minutos / EUA / 2013 / atualmente em cartaz nos cinemas brasileiros

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