jackie

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25 de novembro de 1963. Jacqueline Kennedy coloca um véu. Ele cobria seu rosto e descia até a cintura. Balançava levemente enquanto ela caminhava atrás do caixão do marido numa passeata que andou da Casa Branca até a Catedral. Três dias depois do famoso incidente. O véu era transparente o suficiente para revelar sua face pálida, mesmo que não completamente, de forma que ela permanecia ao mesmo tempo visível e obscura.

Talvez isso reflita no que Jackie, o filme, quis mostrar. Ele é emoldurado por uma entrevista: sete dias após a morte de seu marido, Jackie (Natalie Portman) dá sua primeira entrevista, e o filme volta em uma série de flashbacks do mundo ao redor dela nesta última semana. Desde a mulher em choque segurando a cabeça estourada do marido em um carro – numa das cenas mais fortes que vi nos últimos tempos – até a mulher que entende que precisa cuidar em criar um legado para seu marido.

Pablo Larraín (dos ótimos No e Neruda) faz do filme compilados de filmagens da época com filmagens atuais em um granulado Super 16. É incrível ver, em preto e branco, a refilmagem de uma das poucas filmagens que se tem de Jacqueline Kennedy: uma então primeira-dama abrindo a Casa Branca pela primeira vez na televisão em 1962. Destaco aqui também a trilha de Mica Levi (do ótimo e absurdo Sob a Pele), criando uma atmosfera perturbadora na maior parte do tempo. Sem esquecer, obviamente, da assombrosa performance de Natalie Portman, que transita em várias facetas de uma mulher que, em luto, precisa ser mãe e precisa cultivar uma imagem perante os olhos do mundo todo.

O filme nunca cai no sentimentalismo. Vai do horror das cenas iniciais até o agonizante planejamento do funeral. Referencia histórias do Rei Arthur em um dos muitos discursos sobre legado. Jackie abre seus medos e ansiedades a um padre (o excepcional John Hurt em um dos seus últimos papéis), a um angustiado cunhado, Bobby Kennedy (Peter Sarsgaard) e a uma fiel amiga e assistente (Greta Gerwig). E assim, se abre pra nós espectadores. Como qualquer um, ela só queria deixar sua marca no mundo. Portman habita Jackie, fazendo dela muito maior e mais humana do que jamais tínhamos visto. E não é, aqui, necessariamente, um retrato de uma boa mulher. Podemos sempre nos lembrar da cena inúmeras vezes revista na história, daquela mulher de tailleur e chapéu rosa em cima do carro com o marido prestes a morrer. Podemos nos lembrar também de sua elegância, de suas outras histórias pela vida. Mas, depois desse filme, você nunca mais vai enxergar Jackie da mesma forma de novo.

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  • Gabriela diz:

    Eu adorei! Também não achei que tenha muito sentimentalismo, mas sim doloroso, carrega uma emoção entalada nos flashbacks. Tanto que naquela cena do padre, senti que foi o momento que ela foi mais sincera consigo mesma. A lágrima escorreu no cinema, talvez porque algumas palavras que o padre disse serviram pra minha pessoa hahaha
    Tenho ficado muito fã do trabalho do Pablo, já assistiu o filme O Clube? Se não, assista, é forte, pesado, e ele filma de uma forma incrivel. Acho que pablo tem uma visão muito sensível das coisas, e procurar ser sempre mais intimista. bjs!

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