dois dias, uma noite

dois dias, uma noite

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Às vezes assisto a alguns filmes que possuem tamanha genialidade numa ideia tão simples, que não posso deixar de ficar assombrado. “Como ninguém pensou nisso antes?”, é o pensamento óbvio que vem à minha mente. Foi assim que me senti após ver Dois Dias, Uma Noite, a mais recente obra dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne.

Não pare de ler esse texto ainda, mesmo se você sentir alergia do chamado “cinema de arte”! Sim, os irmãos Dardenne são queridíssimos de Cannes (todos os seus filmes foram exibidos no festival, papando inúmeros prêmios); sim, os filmes da dupla são incensados pelos críticos e desconhecidos do grande público – é difícil até escolher qual a obra mais famosa deles. Talvez O Filho, de 2005? Mas Dois Dias, Uma Noite é absolutamente universal.

A premissa é básica: Sandra (Marion Cotillard), recém-saída de uma depressão, recebe a notícia de que seus colegas de trabalho optaram por receber um bônus de mil euros cada um – bônus que vai acarretar na sua demissão. Com o apoio do marido e de um par de colegas (que votaram contra o bônus e a favor da permanência de Sandra no emprego), ela decide bater à porta de cada um dos outros colegas de trabalho para pedir que votem pela permanência dela. Se ela conseguir mudar a opinião da maioria dos colegas (pouco mais de uma dúzia no total), ela fica no emprego.

E lá vai Sandra, submetendo-se a diversos graus de humilhação, mas também empatia de alguns colegas. Mesmo aqueles que dizem “não” ao pedido dela são encarados, em sua maioria, com resignação – “se eu estivesse no lugar deles faria a mesma coisa”, diz ela. O espectador pode se identificar com ela, mas todos nós estamos representados nos diversos colegas de trabalho dela. Todo um espectro de solidariedade é exibido para nós. O que está na tela somos nós, seres humanos, com o que há de melhor e de pior.

A “contagem de votos” de Sandra – a cada “sim” e cada “não” obtido ao longo desses dois dias e de uma noite – dá ao filme um aspecto de suspense. Ficamos tensos quando os “nãos” vão ganhando, e dá um alívio e uma esperança quando surge alguém que imediatamente diz “sim”. Mas ao final, a genialidade dos irmãos Dardenne fica ainda mais evidente quando eles revelam que o importante não é o resultado da votação. O rosto de Marion Cotillard (magnífica, ainda melhor do que como Edith Piaf) ao final do filme mostra tudo que importa de verdade nessa história. É emocionante como poucas coisas no cinema este ano.

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