carta amarela #92 – inseguranças
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Paris, 3 de outubro de 2014
Queridos amigos,
Tenho falado bem mais que o recomendado. Bem mais. Assumi que dentre minhas várias dificuldades, me complico por não ter foco. Empilho um dia no outro, uma pessoa na outra, um trabalho no outro, um evento no outro e por aí vai. Me perco, enfim. Tenho alegrias infladas, raivas explosivas e tristezas corrosivas. As mágoas são grandes também, fermentam. Mas somem.
Tenho pensado com enorme frequência sobre a base mais inerente da nossa personalidade – o temperamento. Aquilo que determinou desde os primeiros dias de vida se você chorava muito, se era tranquilo, se irrita com facilidade, se é nervoso – isso muda? A gente cresce, aprende, trabalha e se molda em valores, comportamentos, pensamentos e tudo mais. Mas talvez o que está lá no fundo está gravado pra sempre e seu instinto age disso. Será mesmo?
Penso nisso porque como nunca tenho trabalhado em uma maior consciência das minhas atitutes, o que já dá alguns resultados. Mas mesmo assim em horas de ação instintiva eu acabo me comportando do mesmo jeito que sempre me comportei e nunca me orgulhei. Será que dá pra controlar mais?
Outro tema complicado: como é a insegurança da pessoa segura?
Assim, explico. Acredito que todo mundo tem um grau mais ou menos parecido de inseguranças. Todo mundo se pergunta no fundo no fundo se é amado, se é bom o bastante, se é talentoso em alguma coisa, se merecerá as coisas boas na vida. Todo mundo. Mesmo assim, as pessoas se comportam de forma diferente. Tem gente mais cheia de si, mais falante, que se expõe de forma mais direta. Tem as pessoas quase invisíveis, ouvintes, observadores, fechadas. No meio desses estereótipos estamos nós todos.
E aí, eu te pergunto: o falante se acha o foda?
Estou ultimamente pensando que quanto mais expansivo você é, mais inseguro você vai ser. Não que toda essa expansividade seja só uma máscara para inseguranças não, isso é natural da pessoa normalmente. Eu, por exemplo, falo pelos cotovelos simplesmente por não conseguir ficar calado. Mas e aí? Aí que a pessoa nunca vai ouvir o mesmo nível de feedback que ela joga no mundo. Ela fala muito mais “eu te amos” do que ouve, ela joga muito mais elogios do que recebe, ela aparece pros outros muito mais do que é procurada. Simplesmente porque ela é uma pessoa, digamos, mais barulhenta que as outras.
E aí fica se perguntando, o que afinal é a sua imagem para o mundo. Conclui que se você gosta dela, você falaria.
Ela, afinal, fala sempre que gosta de você.
Um abraço apertado,
Gui
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