carta amarela #89 – planejando o que me faz bem

carta amarela #89 – planejando o que me faz bem

Belo Horizonte, 14 de agosto de 2014

Queridos amigos,

Um grande esforço que tenho feito é o de tentar identificar o que me faz feliz, o que me faz triste, o que me irrita, o que me falta. Isso faz parte daquele plano que coloquei pra mim mesmo no ano passado de que eu queria ter uma vida mais leve. Comecei a deixar um pouco aquele pensamento de “deixar a vida me levar” pra planejar a vida que eu gostaria de ter.

Preciso dizer que a coisa que mais me fez bem nos últimos tempos foi largar o facebook. Uns disseram: Não poderia fazer isso porque tenho um network enorme lá; outros vieram dizer: mas eu ficaria sem saber o que está acontecendo com meus amigos. Achei essa última a mais triste. Lembrei de um amigo querido que anda trabalhando muito. Nisso ele basicamente largou todas as suas redes sociais. Comecei a sentir falta dele e assim que o encontrei disse que ele estava sumido demais. Mas depois percebi que eu poderia num toque no telefone ligar pra ele ou mesmo escrever um e-mail. E aí percebi que a vida estava sendo assim: Eu sabia o que todo mundo estava fazendo e onde estavam, mas não tinha um real contato com ninguém. Me vi cada vez mais fechado em um computador ou telefone, e menos num contato real. Aí alguns dizem: Mas ali você tem a chance de conversar e saber da vida de tanta gente. Me pergunto: Preciso? É nisso que entra um dos meus propósitos: conviver com quem me faz bem. É impressionante como existem pessoas “pesadas” que ao abrir a boca te jogam pra baixo, sempre. Ou aquelas que só reclamam de tudo. As que vivem numa nostalgia do passado e esquecem de viver realmente o hoje. Não que eu precise cortar relações com todo mundo, mas é escolher melhor quais momentos eu quero viver. Não ir num aniversário só porque vai ser uma festona ou ir num restaurante porque todo mundo tá falando dele. Larguei um pouco a FOMO (fear of missing out) e estou menos ansioso estando bem em estar “por fora das coisas”.

Nisso também comecei a pensar em como aproveitar mais os amigos. Comecei a convidá-los pra jantarzinhos em casa. Comecei a perceber que o que gasto pra alimentar eu e mais quatro amigos em casa era o que eu gastava sozinho indo num bar com eles. E aí só peço pra trazer bebida. Comecei a criar desculpas para vê-los. Oportunamente dar um pulo na loja em que um trabalha, pra dar um sorriso e um abraço, ou mesmo mandar um whatsapp só pra dizer que tô sentindo falta.

Há um ano e meio, quando voltei de Paris, coloquei uma data limite pra voltar lá pra viver mais um pouco que fosse: exatamente um ano e meio. Mas e aí, como juntar dinheiro pra isso? Economizando. Na mesma medida “sair menos”, coloquei um outro propósito: parar de gastar dinheiro com supérfluos. Comprei pouquíssimas roupas, diminuí a compra de livros que ficavam numa eterna pilha sem ler. Parei de querer viajar ou sair da cidade a cada feriado ou oportunidade que surgia. Parei de ir a shows em SP toda vez que aparecia um banda que eu gosto. Viajei sim, mas mais planejado de quando e quanto eu deveria gastar. Comecei a passar mais tempo na casa dos meus pais, e aproveitar o tempo que ainda tenho com eles. Senti um pouquinho de falta de algumas coisas, mas aproveitei pra aprender que a gente se adapta a tudo. Sempre pensava que era em prol de um objetivo, que finalmente vem chegando: estou de partida de BH em menos de duas semanas.

Aprendi que eu precisava cultivar hábitos. Sim, hábitos. Lembro de quando comecei a aprender a dirigir nunca pensei que conseguiria olhar pra frente e para os três retrovisores sem ficar louco. Sim, eu ficava louco no começo. Mas me acostumei, é algo que hoje faço automaticamente. Acho que é um pouco assim pra tudo também. Estou criando um hábito de consumir menos, criando um hábito de viver menos conectado, criando um hábito de estar mais presente para aqueles que amo.

São só algumas coisas que tenho feito pra me fazer bem e mais feliz. Cada um tem que saber o que precisa pra própria vida. Pra alguns a felicidade está em ter uma vida tranquila, pra alguns significa ter casa própria, carro e emprego estável. Ontem peguei um ônibus e pela primeira vez em muito tempo não fiquei olhando no telefone e nem peguei pra ler meu livro que está sempre na mochila. Comecei a olhar pela janela. Eram 5 da tarde. Estava um sol bonito de fim de dia que adentrava em tons de amarelo cada rua. Passei pelo movimento do centro, pelo verde do parque municipal balançando com o vento, atravessei parte da Andradas e o sol me acompanhou no trajeto todo. Vi as pessoas passando na rua. De uma forma estranha me senti feliz vendo aquilo. Acho que me senti mais vivo, de alguma forma.

Um grande abraço,

Gui

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  • diz:

    Que bela carta… que bela carta.
    Fiquei feliz com sua partida.. é bonito ver pessoas queridas conquistando seus objetivos e sonhos. Espero que seja temporária (para não nos privar da possibilidade de encomendar deliciosos e lindos bolos… mto egoísta isso? rsrsrs).
    Voe alto Gui. Vc merece!
    Beijos

  • Cláudia diz:

    Parabéns por ter conseguido tanto abrindo mão de pouca coisa! Quero ser como vc, mas ainda estou presa em algumas coisas…
    Boa sorte com tudo, não deixe de mandar notícias, e cartas.

  • Marina diz:

    Gui, eu sempre me encanto com os seus desenhos, com os seus bolos, com os seus textos. Mas hoje meu coração foi acertado em cheio!
    Que o seu caminho seja leve, assim como tenho feito a cada dia com o meu. E que as lágrimas que suas palavras me despertaram sejam resultado de escolhas mais amorosas comigo mesma, sem tanto medo e ansiedade.

  • Lília Finelli diz:

    Querido Gui,

    Que bom saber que não sou só eu que estou tentando mudar esses mesmos hábitos! É difícil, mas também venho me sentindo mais feliz. Coincidentemente, ontem vivi uma experiência muito semelhante, saindo de uma ginástica e indo pra faculdade de ônibus. Um caminho bonito, durante o início da noite, uma beleza. Na agenda, vários dias com horários destinados a receber os amigos, fazer uma comida boa, assistir um filme. Cheio de passadinhas nos lugares para dar oi, etc. Uma belezura!

    Beijinhos, faça uma ótima viagem, aproveite muito e anote bem as vivências.

    • gpoulain gpoulain diz:

      Lília, certeza que você arrasa nessas comidas boas com amigos. também acho bom saber que tem gente nessa mesma caminhada. um grande abraço e obrigado pelo carinho de sempre! :)

  • Cíntia diz:

    Gui, seu lindo!!
    <3
    por sua causa decidi largar o medo e começar meu curso de cozinheira…. Obrigada por existir nesse mundão, viu?!

  • Mariana D. diz:

    Sucesso na sua nova caminhada, Gui! Esse desapego das coisas materiais em prol de um objetivo maior, no início é complicado mas depois vira um hábito, um estilo de vida. Hoje se eu entro em uma loja e simplesmente amo aquele sapato da promoção, eu primeiro penso se eu realmente preciso dele. No último ano, eu entrava e levava 4 hehe
    Antes de me mudar, me desfiz de muita coisa que eu gostava, mas não usava mais. De um guarda roupas de 6 portas e uma cômoda com 5 gavetões, hoje guardo minhas coisas em um guarda roupas de 4 portas apenas. E eu pensei: nossa, acho que dei coisa demais! Mas hoje já estou achando que ainda tenho mais do que preciso. Nem lembro a última vez que comprei algo pra mim. Só quero economizar pra poder realizar minha próxima meta, que está mais perto que longe. Já não penso mais em ganhar muito dinheiro, penso em ser feliz e fazer o que eu amo. Não sei ao certo o que me fez mudar assim tão de repente mas cada vez que escuto notícias de tragédias, onde sonhos são interrompidos, tenho mais certeza ainda de que eu preciso apenas fazer o que eu amo. Preciso apenas viver com pessoas que eu amo. “Fazer uma social”, “ir pra não ficar chato”, “convidar tal pessoa pra não ficar chato”, “dizer que sim só pra agradar”, “ficar aqui porque pelo menos ganho bem”….isso está deixando de existir pra mim. Estou prestes a dar o maior chute no balde na minha vida…e estou muito feliz com isso! Chute muitos baldes!!! Seja muito feliz!!!!!!! Estou feliz por você!

    • gpoulain gpoulain diz:

      pois é! eu já tive um armário de roupas muito maior também, mas tenho amado estar com as coisas mais enxutas e leves. boa sorte aí na sua chutada de balde! torço que seja algo que vai te fazer bem! um abraço.

  • Luciene diz:

    Linda sua carta, estou vivendo um momento de recomeço e tem sido difícil, estar em outro estado, longe da família mas percebo que tenho ficado muito tempo presa nas redes sociais e não vivendo tanto essa experiência, obrigada pelas lindas palavras!

    • gpoulain gpoulain diz:

      quando a gente está longe a gente tende a ficar mais nas redes sociais pela sensação de proximidade que nos dá com os queridos, né? entendo isso. mas tô tentando achar outros meios de estar sempre próximo daqueles que importam sem usar isso. tá sendo bom por hora, mas vamos ver. :)

  • Ótimo texto! Ainda não tive coragem de me livrar de vez do Facebook, mas adoto uma estratégia: dos mais de 700 amigos, só sigo uns 10. Assim, não gasto quase tempo nenhum lendo meu feed de notícias (em geral, ele é repleto de posts dos grupos que eu sigo – motivo pelo qual não tive coragem de dizer tchau para a rede social). Parabéns pela força de vontade!

    • gpoulain gpoulain diz:

      ah, isso eu já fazia. mas isso não apaga as pelo menos 40 mensagens privadas por dia das quais muitas eu não queria receber ou responder, as brigas entre pessoas em qualquer coisa que eu postava, o íconezinho do facebook me pedindo pra entrar nele toda vez que eu pegava o celular e por aí vai. ocultar no meu já tava quase todo mundo ocultado mesmo há anos.

      a minha maior força de vontade veio justamente da vontade de não saber nada de nada da vida. sair do FOMO (fear of missing out) e entrar no JOMO (joy of missing out). a vida ficou mais leve pra mim. não necessariamente funciona pra todo mundo. :)

  • Kezya Pascally diz:

    Como não amar as cartas amarelas?
    Tão bom ver as pessoas do bem valorizando o que realmente importa.
    Que seus dias tenham tenham mais sóis sorrindo pra vc!

  • Fran diz:

    Olha, moço, eu te acho genial, viu? Parabéns por ser essa pessoa que transparece tanta leveza.

    Um beijo carinhoso

  • Mayara diz:

    Esse texto passa uma sensação tão grande de conforto…
    Mesmo sem te conhecer, fico feliz por você.
    Mas sendo um pouquinho egoísta, já que é do meu interesse… E o teu livro, sai quando? O blog continua mesmo em Paris, né?
    (torcendo pra que sim!)
    Abraços!

    • gpoulain gpoulain diz:

      obrigado Mayara! sobre o livro, precisei adiar por alguns motivos que ainda não posso contar. ele está com data indefinida por hora, mas assim que eu puder contar o detalhes virei aqui contar, tá? o blog continua em Paris sim! um grande abraço e obrigado pelo carinho.

  • Jana diz:

    Ebaaa, vc vem pro meu canto do mundo haha 😀 Poxa, Gui, tenta fazer uns cursos de culinárias (digo ministrar os cursos). Seria tao hiper legal! E continua cozinhando aqui que eu quero fazer encomendas! Tô feliz demais haha 😀
    Lindo o texto e feliz por vc tb, claro! :)

  • Jana diz:

    Ebaaa, vc vem pro meu canto do mundo haha 😀 Poxa, Gui, tenta fazer uns cursos de culinárias (digo ministrar os cursos). Seria tao hiper legal! E continua cozinhando aqui que eu quero fazer encomendas! Tô feliz demais haha 😀
    Lindo o texto e feliz por vc tb, claro! :)

  • jusciene mendes diz:

    Linda essa carta, como é bom ler coisas pra motivar. Estou feliz pela sua viagem. Felicidades.
    Adoro seu blog.

  • Lara Torrezan diz:

    Ai como você é querido Gui, aprendo tanto te lendo, o seu blog é um dos poucos que paro para dedicar meu tempo a saboreá-lo. Te desejo uma nova estadia maravilhosa em Paris, com outros novos hábitos que te engrandeçam e te façam sentir mais vivo! Pena que chegarei em BH dia 27 com o coletivo de teatro que faço parte, acho que não será dessa vez que o terei na plateia, fica para outras voltas dessa vida. Um grande abraço cheio de afeto de quem sempre te acompanha!

    • gpoulain gpoulain diz:

      muito obrigado, Lara, fico feliz! pois é, uma pena que não vou poder ver dessa vez, mas como você disse, fica para outras voltas dessa vida. um abração!

  • Lindo! Recuperar o afeto que está presente nas coisas simples nos faz ter mais certeza de qual é nosso ofício nessa vida. Pq o que fica ,sem as interferências que a vida de hoje nos apresenta, não as negando, é aquilo que genuinamente é nosso, é vc.
    Repito, lindo!

  • Gabriela diz:

    Gui,

    Eu nunca tive Facebook e nem instagram. Que libertação! Você fez muito bem! Já viu um vídeo que mostra como é a vida das pessoas e como eles a postam na internet? É de chorar de rir!

  • Marcela C. diz:

    Não te conheço, é a primeira vez que entro nesse lindo cantinho, mas preciso dizer: essa carta me fez reviver emoções, me deu não só um tapa na cara, mas muitos. Como é bom encontrar palavras que nos empurram pra frente, como é bom encontrar pessoas como você. Muito boa sorte e dias doces na sua vida, viu? É muito menos do que eu poderia desejar diante desse relato que tanto mexeu comigo.

  • Rogéria diz:

    Lindo mais uma vez, Gui!
    Boa partida e estadia em Paris… Não nos deixe…
    Bj

  • flávio carrilho de castro diz:

    eu que ando diminuindo gradualmente minha participação no facebook senti hoje senti sua falta por lá, procurei e não encontrei.
    então, vim aqui, vi a postagem linda sobre o lot e aveyron e esta carta amarela. acho que não canso nunca de admirar a sua delicadeza em tudo.
    quando você voltar (se voltar) vamos combinar um chá, por ora te desejo doses cada vez mais generosas de vida.

    • gpoulain gpoulain diz:

      ei mocinho! que surpresa saber que sentiu minha falta lá. :)
      combinaremos um chá sim, algum dia que eu estiver por aqui (ou você por lá).
      um abraço!

  • Leticia diz:

    Oi Gui,
    Que bom ler isso, fiquei muito feliz por você. Agora que eu volto, você vem, mas um dia a gente ainda cozinha juntos.
    Muita luz e tranquilidade para você na “nova” etapa na sua “velha” Paris.
    Tudo de bom mesmo!
    Beijos,

  • Gui,

    Sigo você a algum tempo e adoro tudo que você escreve. Esta carta amarela me tocou de forma especial, estou passando por um processo de transição o que me fez pensar exatamente isso, quanto vale a pena ficar nesse mudo virtual e deixar as relações humanas de lado?
    Não vale. Estar ao lado dos amigos e de quem amamos é o que vale.

    Parabéns e seja muito feliz nesta nova etapa!
    bjs
    Erika

  • MICHELLE VERGINASSI diz:

    Q LINDA CARTA!!!!!! ME IDENTIFIQUEI MUITO COM ELA…. ACHO Q ESTOU BUSCANDO A MESMA COISA….. ADOROOOOOOO VC GUI, DESDE Q TE CONHECI NO CHATA DE GALOCHA…. POR FALAR NISSO JA ESTOU COM SAUDADES DAS RECEITAS….. ENTRO TODO DIA PARA VISITAR VC E NO CHATA PARA VER SUAS RECEITAS COM A LÚ!!!

    BJOSSSS

    MICHELLE

  • Ju diz:

    Concordo plenamente com você. Também não tenho facebook e acho que ele dá a falsa impressão de que estamos em contato com todos nossos amigos, conhecidos, mas na verdade… quase não nos comunicamos com ninguém. Sem falar no tempo que consome, dar só aquela olhadinha no face. Ao invés disto, tenho tempo para fazer coisas que adoro ou “fazer nada”, só passar um tempo com pessoas que gosto.
    Seja (ainda mais) feliz :)

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