carta amarela #84 – conte comigo

carta amarela #84 – conte comigo

Belo Horizonte, 25 de junho de 2014

Queridos amigos,

Eu adoro o inverno. Mais que adorar estar debaixo das cobertas, adoro dias de inverno com sol. Sair de blusa de frio e sentir aquele mesmo sol que no verão era insuportável me esquentar. É um calorzinho daqueles gostosos. Acho que o inverno também pede mais calma.

Lembro-me de quando fui morar na Argentina. Fui meio fugido. Nada na época funcionava pra mim – fim de uma relação, demitido do emprego, problemas com família, tinha recém perdido a confiança naqueles que eu chamava amigos. Foi uma época bem difícil em que eu tive que aprender a contar unicamente comigo mesmo. Num país diferente. Não foi minha melhor experiência na vida, e por mais cafona que isso possa soar, foi como um inverno rigoroso que em que eu tive que aprender a sobreviver ali. Na calma de estar entre meus próprios pensamentos.

Contei na minha última carta que coleciono amores: algumas cartas, alguns livros, alguns amigos, até uma plantinha. Ter afetos é também ter compromissos. A gente cuida um do outro. A gente quer ajudar nas dificuldades daqueles queridos e também quer ter isso quando a gente precisa. Talvez você pense que isso é um fardo, palavra que alguns usam pra ilustrar o casamento também. Mas não é. É bom dividir. É bom se sentir parte de algo maior. Todo mundo vive seus invernos. Mas os invernos, assim como todas as outras estações, também é passageiro. Assim também como as felicidades e as tristezas.

Quem fica. Quem faz parte. Uma amizade precisa ser composta por confiança, por respeito, por simpatia. Esses laços, esses afetos perpetuam aquele amor verdadeiramente sentido. É uma fidelidade muito maior e muito mais digna do que aquela que as pessoas pregam de “exclusividade”, em relações ciumentas. Contar com alguém é sentir aquele abraço mais caloroso, como aquele solzinho gostoso do inverno também. Faz a vida ser mais gostosa.

É bom também se perder pela vida quando se sabe qual a direção certa dela. Os erros fazem parte. Os sofrimentos também. Os invernos vem e vão. Desde que a gente sempre tenha um calorzinho pra manter a gente ali, vivo. Se essa carta foi meio dispersa, foi em meio a uma época meio perdida pra mim, mas sei que continuo sabendo onde chegar.

Um abraço desses que já dizem nas entrelinhas: conte comigo.

Gui

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  • pri mota diz:

    eu fico desejando te conhecer pessoalmente! com amor, pri

  • Mariana D. diz:

    Querido..que lindas palavras. Não vejo a hora de me perder na direção certa…falta pouco! Acordei 06:30 da manhã (já atrasada, acordo as 6) e decidi que não faria nada correndo hoje. Fiquei de preguiça na cama até 7:20….pensando em como eu não vejo a hora de me perder na minha direção certa. Os planos são para o próximo ano, mas por mim iria ontem! Ando meio perdida também….mas é porque eu já sei o que eu quero pra mim (pelo menos até então). E o fato de não ter mudado ainda, é que me deixa ansiosa e “perdida”. Mas acredito que não estamos perdidos, quando estamos na direção certa! Confuso né? kkk mas entendi exatamente o que você quis dizer! As vezes estamos com tantas ideias na cabeça, tantas vontades, que acabamos nos sentido “perdidos”!

  • diz:

    Também ando muito perdida querido, mas perdida nas decisões. Quem eu amo mora longe e aí o que resta em mim é a indecisão de permanecer onde estou, segura, ou ir para onde me sinto completa, onde me sinto mesmo feliz! Ai quando penso naquela frase “Seguro morreu de tédio”, parece que tudo fica claro para mim…mas são tantos poréns! :/

    • gpoulain gpoulain diz:

      é. é uma dúvida que persegue né? mas acho que da mesma forma que as coisas passam, elas vão se resolvendo com o tempo e com nosso empenho em chegar na direção certa também!

  • estar perdido é ótimo! significa que existem caminhos disponíveis.

    mandando um abraço cheio de significado implícito,

  • Rogéria diz:

    Como gosto e me emociono com suas Cartas Amarelas, Gui!
    Sempre tocante!
    Bj

  • Anita diz:

    Suas palavras sempre tocam o meu coração.. Eu tb fico desejando te conhecer pessoalmente Gui.
    Gostaria de poder te dar um abraço daquele apertados!

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