carta amarela #7 – é (quase) primavera, te amo
0 Flares
0
Facebook
0
0 Flares
×
Paris, 18 de março de 2012
Queridos amigos,
Era segunda-feira de manhã. Acordei bem cedinho, precisava estar às 7h30 em frente ao Le Bon Marché. Estava feliz. Estava descansado, finalmente. Saí de casa com o sol começando a aparecer. Ver o sol nascer é tão ou mais lindo que ver ele se pôr, ainda mais quando a gente é ciente disso. Desci serenamente minha rua. Por incrível que pareça eu não estava correndo, quase atrasado. Fiz questão de passar pela Rue de Abbesses para chegar ao metrô. Era cedo, mas o movimento já começava. Pessoas arrumando os mercados, pessoas passando apressadas. O dia era bonito, e não muito frio. Desci os 172 degraus da estação e dei de cara com o primeiro trem. 15 minutos depois eu descia em Sèvres-Babylone, pronto pro meu dia começar. Um ônibus estava parado, ali. Várias pessoas já esperavam ansiosamente pra viajar – era o começo da minha primeira excursão de escola aqui.
Não sei dizer precisamente há quantos anos eu não fazia uma excursão. Uns 7 anos, talvez, quando eu ainda estava na faculdade. Brinquei: Minha primeira excursão que ninguém vai cantar “toda vez que eu chego em casa a barata da vizinha tá na minha ca-ma!”. E foi assim, bem calma, até. Vi Paris de ônibus – me senti culpado por só andar de metrô, sem ver a cidade. Saí de Paris, e passei por lugares lindos. Cantarolei: é primavera (e nem é), te amo!
Nunca entendi muito essa coisa européia de comemorar as estações até chegar aqui, e viver isso. A sensação de primavera começou a florescer, em ambos os sentidos da palavra. Foi lindo sentir o tempo mais ameno. Ver os pequenos brotos nas árvores. Começar a ver grama de novo! Ver um pouco de mais cores nas ruas, nas vitrines. Eu realmente esperei por cada dia que estive aqui, pra essa primavera chegar logo.
A semana acabou sendo toda interessante. Vivi minha segunda excursão (a primeira foi visitando um moinho de farinha de trigo e a segunda visitando Rungis, o maior mercado do mundo, desses que abastecem restaurantes). Vivi um jantar da Malásia. Vi uma grande amiga ir embora. Vi minha mesa ser mudada pelo professor.
Terminei a semana ficando 42 horas sem dormir. E até agora não entendo como arranjei tanta disposição assim. Andei pela primeira vez a pé, percorrendo Paris. Desci de Montmartre ao Louvre. Percorri toda a Champs Elysées, até o Arco do Triunfo. Desci a George V e fui até a Torre Eiffel. Foram quase 3 horas de caminhada sem parar. Foi incrível. Coloquei o meu melhor blazer pra enfim conhecer Paris. E Paris me presenteou com o dia mais bonito que vivi aqui. Tirei o blazer com 15 minutos de caminhada e foi a primeira vez desde que cheguei que consegui andar na rua sem nenhum casaco, suéter ou o que seja. Nesse dia, vi o sol nascer. E nesse dia, vi o sol se por.
E quando o sol se põe, em Paris, ele nasce de novo. Dentro de mim.
Um abraço de quem continua com esse sol quentinho aqui dentro (lá fora já esfriou de novo),
Gui
0 Flares
0
Facebook
0
0 Flares
×