carta amarela #68 – gravando!

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Belo Horizonte, 28 de novembro de 2013

Queridos amigos,

Quem me vê hoje não acredita muito que eu já fui bem tímido – bom, até dá pra me achar tímido pelo video do cheesecake de nutella. Não tinha muitos amigos na escola, vivia quieto no meu canto, passava desapercebido. E eu sei bem o que eu sentia: inferioridade. Quando pequeno, tinha orelhas enormes e tinha o apelido de dumbo. Um pouquinho maior, era tolhido pelos outros meninos por não gostar de futebol. Mais pra frente por ter uns trejeitos afeminados. Depois por gostar de pintar ao invés de praticar esportes. E assim fui fechando-me no meu mundo, na época. Não me colocava como vítima, só me sentia diferente dos outros e também inferior.

Essas coisas foram passando na época da faculdade, e foi quando observei características tão presentes em mim: me achar menos que outros, temer o fracasso, dar valor maior ao que os outros fazem. Isso tudo por não ter confiança em mim mesmo.

Mas não levo essa timidez só pelo lado negativo não. Foi com ela que aprendi a ser observador. Ao estar ali, fechado pros outros foi onde comecei a observar tudo que acontecia ao redor. Aprendi a captar pequenas coisas, e a sorrir com elas. Foi na timidez que virei ávido leitor, e com isso comecei a brincar mais com as palavras. Foi através delas que comecei a escrever, pois ali, pensadinho e escritinho conseguia “falar” aquilo que vinha de dentro que eu nunca tinha palavras pra expressar falando. Foi com esses hábitos que comecei a criar segurança pra me livrar aos poucos dessa vergonha grande que sentia.

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Na última quinta levantei cedinho e me preparei pras gravações d’O Chef e A Chata. Tomei banho, penteei o cabelo da melhor forma possível. Escolhi algumas louças pra levar. Fiz exercícios vocais. Pensei, repensei. E é só ligar a câmera que vejo como todo meu raciocínio parece se interromper. Esqueço palavras, esqueço a receita. Mas lembro que estou rodeado de gente querida. A gente ri, dança. Dizem que eu faço o pior moonwalk já visto – que, oh vida! – talvez vocês verão também. Repetimos o take trinta vezes se for necessário. O diretor vibra quando acha um ângulo bacana. A produtora pula de alegria quando eu consigo falar o que preciso falar. A Lu me enche o saco mas eu encho o dela ainda mais. Mas é ela que abre um sorriso e diz que tá aprendendo muita coisa. No final, depois de umas 10 horas do longo processo de gravação, a gente se abraça e vai ver um pouquinho do que foi gravado. Coro de vergonha. Não gosto da minha voz, não gosto de como falei tal coisa… Aí penso naquele complexo de inferioridade todo de novo. Não é fácil. Mas é nas tentativas e erros que vou conseguindo, finalmente, fazer tudo dar certo.

Um abraço com uma pitada de coragem, outra de ousadia e mais meio quilo de manteiga,

Gui

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