Paris, 23 de janeiro de 2013

Queridos amigos,

Saí para o supermercado. Precisava, mais que tudo, fazer mandioca frita. Passei por Ménilmontant. Ali existe um mercadinho oriental onde encontro mandioca “fresquinha” vinda da costa rica. Enchi meu saco vermelho delas e de outros variados legumes. Começava a anoitecer. Pude sentir minha bota branca meio úmida. Um pouquinho de chuva talvez, nessa cidade de tempo quase sempre cinza. Atravessei de volta o caminho verde. Virei na Parmentier. E no começo da Ledru Rolin entrei no supermercado. Lombo, vinho, arroz, baunilha e banana. A lista nem era longa. Ao abrir das portas de vidro, um vento todo branco. Era o começo de uma tempestade.

Acolhi-me no meu canto vermelho. Fritei as mandiocas e o esperei. E me veio com o abraço mais gostoso do mundo. Ficamos ali, pela janela, vendo o jardim se cobrir de branco. Aquela janela, por tempos cercada de verde, por tempos cercada somente de galhos  marrons. Aquela janela. Agora toda branca.

Flocos brancos caíram por dois dias.

Atravessamos a cidade gélida. Um frio intenso adentrava pelos pequenos espaços de pele ainda a mostra. Pessoas saíam pra aproveitar as montanhas brancas. Um louco esquiava em plena rua do 12ème. Chegamos ao parque de Bercy. Cachorrinhos rolavam na neve. Crianças faziam bonecos de neve. Eu brinquei de escrever palavras na neve. Ao contrário da areia, ali não havia o mar pra apagar. Mas eram palavras tão efêmeras quanto.

Não sei porque a gente complica as coisas. Fazer dar certo, no fundo, é simples.

Com cuidado tudo se resolve. Com conversa, faz valer. Com carinho mútuo, tudo se torna ainda mais simples. E o respeito vem pra fazer fluir com facilidade.

É bom achar o caminho das coisas.

Gui

• Janeiro 23rd 2013
• cartas amarelas
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