carta amarela #43 – laranja, azul, amarelo
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Paris, 3 de dezembro de 2012
Queridos amigos,
Acordei a tempo de ver o sol sair por entre a cidade. Nessa época a noite vai tarde. E volta cedo. Precisei vestir duas meias. Gorro. Camisa. Suéter. Casaco. Cachecol.
Atravessei a cidade fria. Precisava andar, pensar no futuro. Bater o frio no rosto, mesmo. O sol, o céu sem nuvens.
Algumas vezes a vida pede mudança. Uma transição. Como as estações do ano. Atravessei o Jardin des Tuileries. Cat Power gritou em meu ouvido: “Cabe a você ser um super herói. Cabe a você ser como ninguém. Você não tem nada, exceto tempo.” E pensei de novo no amanhã. Nos quereres.
Mas só conseguia andar em frente. Vi a roda gigante de Paris. A fila, as pessoas rodando lentamente em direção ao sol. Atravessei toda a Place de la Concorde e cheguei ao rio. Pont Alexandre III. Pessoas tirando fotos. Senti-me sozinho. Olhei para a água. Corria rapidamente com o vento. O vento ali na ponte era ainda maior. Senti minhas mãos geladas, e lembrei-me de quando perdi minhas luvas na minha primeira semana em Paris. Coloquei as mãos no bolso do casaco e continuei.
Foi então que recebi uma mensagem: “Preciso do seu sorriso”.
Claro, sorri. “Encontre-me no Trocadéro em 30 minutos”.
Tirei o fone do ouvido, queria ouvir a felicidade das pessoas naquele domingo de sol. Árvores sem folhas, gramados verdinhos, verdinhos, com algumas folhas secas ainda ali. Atravessei a Pont de l’Alma. Vi os pássaros a voar por perto da Tour Eiffel. E o encontrei. Subimos degrau por degrau e escolhemos onde sentar. Ele tirou duas éclairs au café de dentro de um saco. Falamos poucas palavras. Sorri. E ele sorriu em retorno. Tirei minha mão do bolso e pousei sobre a dele. Não sei qual estava mais gelada.
Nos abraçamos. Comecei a cantar The XX bem baixinho: “E com palavras não ditas, uma devoção silenciosa. Eu sei que você sabe o que eu quero dizer”. Se eu prendi o choro, segurando-o apertado pelos braços, no meio dessa escada, é porque há muito tempo eu esperava isso: O laranja, o azul, o amarelo, as estrelas surgindo, a noite adentrando. E ele. Ao contrário da Marshall, nós temos tudo menos tempo.
Um beijo de lábios rachados,
Gui
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