carta amarela #36 – o lado bom

Paris, 5 de outubro de 2012

Queridos amigos,

Dia desses pude aproveitar algumas coisas da Paris Fashion Week (quem quiser ler sobre isso tem texto meu no Chata de Galocha). Ao chegar pro desfile do Pedro Lourenço, me encantei com o lugar. Era uma garagem, antiga, com pichações e afins, no meu bairro preferido de Paris. Achei que tinha uma clima underground, que combinava com as peças modernas que o designer propõe. Mas aí chegou um grupo de brasileiros dizendo: “Ele deve estar sem dinheiro né? Olha que caído o lugar do desfile. Uma garagem?”. E aí fiquei pensando: Pra que desvalorizar? Não é bacana observar que tem um designer brasileiro desfilando aqui?

Ando pensando nessas eleições de domingo. Eu não vou poder votar estando aqui, mas tenho visto calorosas manifestações nas redes sociais. Mas as pessoas só compartilham o que é ruim: fulano cavou um buraco na praça 7, o vice do ciclano deu entrevista x meses atrás contrariando o que diz hoje. Dia desses alguém veio me pedir voto, dizendo: “Você não pode votar no fulano que cavou um buraco, olha que absurdo!” E eu disse: “Mas o que o seu candidato fez de bom quando foi prefeito?”. E ela não soube me responder. Estava votando numa pessoa baseada nos defeitos do outro candidato. Não é surreal onde as pessoas chegam?

Eu não votaria em alguém só porque o candidato oposto fez alguma coisa de errada, até porque já aprendi que, infelizmente, qualquer político vai roubar, gastar dinheiro onde não devia. Mas imagino que todos eles de alguma forma fizeram alguma coisa boa também. Aí vi um amigo professor falar que dos muitos anos nessa profissão, os anos mais tranquilos de dinheiro na escola pública onde ele trabalha vieram com esse mesmo prefeito que abriu o tal buraco. E achei bonito ele falar isso. Ele não veio me pedir voto, mas, no meio de um assunto, veio comentar que apesar dos pesares ele gostava de um dos candidatos porque ele mesmo viveu uma coisa boa que tal prefeito fez.

Já cansei de abrir jornais e ver tanta desgraça. Me pergunto: Por que as pessoas querem ver tantas notícias de mortes e coisas ruins? Eu sei que é importante que a gente saiba dessas coisas que acontecem no mundo, mas eu tenho a impressão que hoje em dia é mais importante noticiar o ruim do que o bom. E as pessoas, em suas próprias vidas, tem visto a vida cada vez de forma pior também.

Sempre aprendi com meu pai, de algo vindo da Logosofia, que a gente deve colocar os problemas dentro da vida e não a vida dentro dos problemas. As pessoas reclamam demais, só enxergam tudo aquilo que está acontecendo de ruim, e concluem: “é, o mundo não tem jeito mais”. Acho que quando a gente consegue colocar nossos problemas e tudo de ruim que acontece como uma parte da vida, e não como o todo, a gente consegue ser mais feliz, porque a gente começa a enxergar a felicidade por aí.

Um grande abraço, tentando colorir o mundo com novas cores,

Gui

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  • Maria de Menicucci diz:

    Concordo com tudo que disse! É o que tenho pensado há muito tempo nestas eleições! Com essas manifestações no facebook, agressividades, etc… Pessoas tentando conventer o voto dos outros pelas negatividades! Pelo menos o meu voto vai pelos lados positivos!

    Um grande beijo!!!

  • Agnes Dussaud diz:

    Complètement d’accord… française habitant au Brésil, je peux faire des parallèles à ce que j’ai ressenti au moment des élections en France. J’ai été triste devant les messages sur facebook pendant la campagne électorale.
    Cette semaine, j’ai été intéressée par un dossier de la Revue Epoca sur des municipalités ou la santé et l’éducation ont des bons résultats indépendamment du parti de la municipalité. Se focaliser sur ce qui marche, comprendre pourquoi et le partager semble tellement plus essentiel que l’agressivité des campagnes électorales.

  • Acabei viajando no tempo. Alguns meses atrás, dois anos depois da sua carta. Talvez tenha alguma carta mais recente falando sobre isso também, mas o fato é que as eleições viraram um dos piores momentos que eu já vivi na vida. Justamente por isso: defeito por defeito. Esqueceram de propor e só lembram de acusar.

    Talvez nesse ponto o mundo realmente não tenha mais jeito. Mas não quer dizer que a gente não possa fazer nossa parte. E assim a gente vai encontrando gente que faz a parte dela e podemos até não mudar o mundo, mas com certeza fazemos ele melhor.

    • gpoulain gpoulain diz:

      essa última eleição foi algo tão caótico que preferi não escrever nada. é interessante reler o que vi em 2012, sem nem imaginar a loucura que ia virar a eleição de 2014.

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