carta amarela #3 – a primeira aula de pâtisserie

Paris, 13 de fevereiro de 2012

Queridos amigos,

Semana passada foi uma semana cheia de novidades para mim. Uma mistura de gripe, muitas horas de escola, comidas deliciosas, vinho barato… Ainda quero sentar para poder escrever sobre a própria escola em si (até porque muitos de vocês me perguntaram isso), sobre meus colegas de toda parte do mundo, mas por hora quero começar da primeira aula que fez meus olhos brilharem.

Depois de dois dias de aulas de orientação, entrevistas pra saber nosso nível de francês e ambientação, tivemos na quinta-feira o primeiro dia de aula. Ficamos duas horas em sala, aprendendo teoria, que nesse dia foi aprender nomes em francês de toda nossa mala de equipamentos e coisas do tipo. Temos uma cozinha só pra nossa turma, o LAB23. É uma cozinha enorme e toda equipada, com duas bancadas de granito que dividimos entre as 12 pessoas da turma. Cada um tem sua função. A cada semana, Didier, nosso professor master coloca uma tabela na cozinha com as tarefas de cada um. Um é o chef, que coordena tudo; um fica por conta da pia, e por aí vai. Na primeira semana minha tarefa era cuidar do lixo.

Chegando na cozinha o primeiro passo é desinfetar o balcão que usamos. São várias etapas, que a gente faz rapidinho pois somos 6 por balcão. Divido o balcão com 5 ótimas meninas: Stephanie (americana), Isabelle (australiana), Patrycja (polonesa), Brittany (americana) e K. Jung Lee (sul coreana). Cada um, na parte de baixo do seu balcão tem sua geladeira, onde guarda as coisas que faz e também todos os nossos instrumentos. Segundo o professor assim não há riscos de proliferação de microorganismos.

Aprendemos nas duas primeiras aulas (cada aula na cozinha demora 5 horas) os segredos das massas para tortas, fizemos algumas massas diferentes, e, com a mais comum, a pâte à foncer, uma tarte aux pommes (torta de maçãs) e um flan parisien (que é uma torta com um creme de confeiteiro dentro, feito com base de leite, gemas e baunilha).

Tudo é dividido entre todos: cada um pesa o açúcar para todos os doze alunos, enquanto outro pesa a farinha… No fim todos lavam a cozinha toda também, ela tem que ficar preparada para o próximo dia de aula.

São horas bem divertidas. Ao contrário dos meus professores na Argentina que exigiam concentração e a gente mal podia falar, Didier é daquelas pessoas com um humor próprio, que faz piadas e fala o tempo todo na sala, enquanto explica como fazer ou mesmo quando ajuda. O clima não poderia ser melhor, a gente faz dali um próprio momento de afeto e divisão igual de tarefas, e tudo ali tem um pouquinho de cada um. É a primeira vez que entro em uma sala de aula e não vejo ‘panelinhas’ ou coisas do tipo. Todo mundo é amigo de todo mundo, e todo mundo ‘do mundo todo’ está ali, tentando se descobrir naqueles doces e dando um novo sentido pra vida num lugar distante de casa, distante dos amigos e família… E a sensação não poderia ser melhor. Saímos cansados após 12 horas diretas da escola, mas com um sorriso no rosto, tortas na mão e uma grande disposição de começar tudo de novo no dia seguinte, dia após dia, doce após doce, sorrisos após sorrisos.

Um grande abraço, coberto de farinha.

Gui

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