carta amarela #13 – de cores e caminhos

Annecy, 29 de abril de 2012

Queridos amigos,

Se Lykke Li segue rios, eu sigo caminhos. Por obra do acaso (será?), acabei vindo morar numa rua chamada ‘caminho verde’. De verde mesmo ela não tem quase nada, mas confesso que acho poético morar numa rua com nome assim. Entre tantos nomes de pessoas, preferi escolher o caminho verde.

Nunca fui dos maiores entusiastas em fazer road trips. A ideia de passar horas e horas dentro de um carro na estrada por vezes me apavora, mas embarquei numa dessas sem pestanejar. Junto à minha família alugamos uma van e seguimos em direção ao sul da França.

O primeiro caminho seguido não era verde, mas amarelo. Um amarelo bem vivo. Eram campos de flores (vim a descobrir que é Canola, pra fazer óleo), que ao longe pareciam tapetes, todos da cor do sol. Já falei aqui o quanto amo amarelo? Acho que ficou na cara, né?

Descendo pela Borgogne, são campos e mais campos de uvas. Os vinhedos estão ali. Ainda marrons, com pequenos brotinhos verdes. De Beaune à Dijon, por toda Cote D’Or, bebemos vinho. Branco, rosé, tinto.

E aí veio a Provence. Ah, a Provence. Região campestre. Entre estradinhas perigosas margeando a montanha de Luberon, passamos. Entre campos de lavanda, ainda sem flores roxas, passamos também. As cidades parecem ficar todas sobre rochedos. Vimos o vermelho terra intenso de Roussillon. O verde intenso das árvores da estrada entre Avignon e Aix-en-Provence.

Ao descer até a Cote D’Azur, finalmente entendi todo o hype de Nice. Aliás, não exatamente de Nice, mas de toda a estrada entre Nice e Monaco, margeando toda a costa. Lá do alto a gente vê um azul intenso, ao mesmo tempo claro, quase turquesa. É de encher os olhos.

Subindo para os Alpes, vi muito branco, muito cinza e muito azul. As montanhas, lá em cima, repletas daquela chamada ‘neve eterna’. Passei por um lugar chamado ‘mar de sorvete’. E muitos lagos, estranhamente formados por água de degelo. Azuis, azuis. Virei criança de novo, no meio do caminho (tô sempre virando criança de novo, já repararam?). Quis brincar de jogar bolas de neve nos outros, de fazer boneco de neve. Estava a quase quatro mil metros de altitude. Vi uma cidadezinha incrível, perfeitamente ‘encaixada’ nesse meio: Chamonix. Bem na divisa da França com a Suíça e a Itália.

Terminando a semana, fui até Genève. Procurei as vaquinhas da Milka, mas não achei nenhuma. No final, um aviso, na ponta dos sapatos já sujos: See you soon.

Talvez eu nunca mais passe por essas estradas. Dizem que os caminhos são mais importantes que os objetivos em si. E pela primeira vez, senti isso como uma verdade. São os caminhos que escolho na vida que vão me definir como serei daqui um, dois, vinte anos. Alguns deles são curtos, outros longos. Alguns claros, outros escuros. Uns cheios de curvas e alguns planos. Daqueles de poder ver o horizonte lá longe. E nesses caminhos posso ver quantas cores e paisagens quiser. Basta saber escolher. E saber que objetivo alcançar.

Beijos de quase três mil quilômetros rodados, de quem voltou a seu quarto vermelho no caminho verde, com muito mais energia pra seguir em frente.

Gui

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