carta amarela #129 – sem dedos apontados, por favor
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Belo Horizonte, 24 de fevereiro de 2016
Queridos amigos,
Tenho escrito menos. Saber que tudo o que acontece no mundo vira intermináveis textões compartilhados a cada rede social que entro me faz ter menos e menos vontade de dizer um pouco do que se passa aqui dentro. A gente revela uma descoberta pessoal numa empolgação natural que vem com ela e algumas pessoas vão querer ditar dissertações sobre o seu sentimento exposto. Uma necessidade constante de tudo virar crítica. O tempo todo. Nada mais é passível de distração. A gente é jogado em um caldeirão de pré-definições daqueles que se acham muito sabichões e, claro, melhores do que todos os que não seguem à risca o seu padrão de vida. É ótimo sim pensar que hoje, com a internet, todo mundo pode ter voz própria e comentar o que quiser. Mas é perceptível o quanto isso anda muito mais negativo do que construtivo.
É difícil falar sobre algo sabendo que existem tantas realidades diferentes. É fácil a atriz que tem uma vida boa não se preocupar com o machismo por sua vida não estar exatamente numa realidade em que mulheres apanham. Fica triste sim pensar que ela tem um público tão amplo em que ela poderia propagar ideias pra um mundo melhor. Aí é fácil também apontar o dedo pra ela e virar uma eterna discussão que vai durar até… o próximo textão? Espero que essas discussões realmente façam mais pessoas pensar nas coisas. Acho importante sim falar sobre feminismo, sobre homofobia, sobre preconceito, sobre a política. Sinto que falta é mais respeito na hora de opinar. Falta tato também. Falta pensar. Falta lembrar que somos todos humanos ali do outro lado da tela. E de deixar o egoísmo de lado pra juntar o que a gente vai aprendendo por aí e não se agarrar somente ao que você mesmo crê como verdade.
Lembro quando pedi ao meu amigo Adriano pra escrever a seção cinema aqui do blog. Ele me perguntou se existia alguma restrição com os filmes que ele quisesse escrever. A única coisa que pedi foi que ele escrevesse sobre filmes que ele realmente tinha gostado. Se ele não gostou de um filme, que não escrevesse. Talvez seja essa linha que eu tento levar pra minha vida: Se eu não gosto de alguma coisa, eu não curto, não comento, não escrevo sobre. Se acho que preciso falar sobre um tema difícil, tento trazer argumentos interessantes e escrever da forma mais respeitosa que eu conseguir, sem impor regras. Penso, escrevo, reescrevo. Só exponho depois de algum tempo. Não preciso trazer mais palavras odiosas por aí. Prefiro espalhar as coisas que sinto que tragam um bem.
O que tenho visto é muitas pessoas muito cheias de si e vazias de sabedoria. Compaixão e simplicidade tem virado coisas raras. Talvez por isso tenho falado menos. Porque sei mesmo que não sei muito sobre as coisas ainda. Vou tentando aprender mais com esse mundo e tentado julgar menos. Falar tudo o que penso o tempo todo assim, jogado ao mundo, nunca foi prudente. Tem a pessoa, a hora, o lugar. Hoje falei muito porque algumas vezes a gente precisa escrever. Pra lembrar sempre que a vida é muito curta para apontar dedos por aí e julgar tudo tão negativamente. Pra lembrar que a vida está aí pra ser mais leve. E que vida gosta mesmo é de quem gosta dela.
Um abraço, com afeto,
Gui
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