carta amarela #125 – pra começar

carta amarela #125 – pra começar

Belo Horizonte, 12 de janeiro de 2016

Queridos amigos,

Lembro de quando pequeno. Com medo do escuro. Dos monstros que poderiam sair de debaixo da cama enquanto eu dormia. Esses medos que parecem bobos, que a gente ri quando cresce. A gente vai crescendo e os medos viram outros. O medo da escuridão de alguma forma continua lá: a gente se apega ao que é cômodo, ao que a gente conhece e vive todos os dias e tem medo de tentar algo realmente novo, porque o novo é algo totalmente escuro.

Falamos tanto em crescer. Em como o tempo passa. Somos uma transição do ontem. Daquelas memórias que se tornam ouro. Pensar em glórias. A glória de perder um dente e ver crescer outro, novinho. De sentir uma dor gigantesca no peito por vezes. Pra depois sentir pulsar um outro coração ali, novinho. A força em chegar lá. Sempre. Se sentir feliz ao ouvir a música de ontem como se fosse a primeira vez. Sensações simples que o tempo só aprimora: esse é o passado que vale a pena. O pedaço de história que só você conhece. Que se faz vivo quando aquele perfume emana. Quando aquele filme que você adora passa na TV. Quando aquele chocolate da sua infância volta para as prateleiras. Uma lembrança que nem é por ninguém a não ser por você mesmo. Essas coisas me fazem sentir a vida alcançar um andar a mais, a cada ano que passa. Coleciono com orgulho o meu álbum repleto de sorrisos, nariz sujo de chocolate quente, abraços embaixo da garoa, das estrelas acendendo no céu.

É engraçado como o tempo passa, as dores vão embora e os ressentimentos também. Hoje sinto com mais intensidade o barulho da chuva, o aconchego gostoso da meia luz, o verde balançando com o vento nas avenidas de beagá, a calma de quem pega no sono. Continuo andando. Só guardando boas sensações.

Um abraço. E um novo sentimento pro álbum de memórias.

Gui

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