carta amarela #120 – acredite em você

carta amarela #120 – acredite em você

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2015

Queridos amigos,

Semana passada fez um ano que tive uma crise daquelas. Quis reler essa carta pra pensar o que fiz pra mudar isso. Parei no parágrafo onde eu dizia que não via talento em mim mesmo. Aos poucos nesse último ano fui tentando descobrir não exatamente meu talento, mas o que me move a fazer as coisas bem. Eu cozinho querendo agradar; eu desenho querendo criar coisas belas; eu escrevo querendo colocar mais cor numa vida em preto e branco. Sei que meus doces nunca vão ser os mais lindos e perfeitos; meus desenhos nunca vão ser Van Goghs; minha prosa nunca vai ter a melhor estrutura ou o português mais corretinho. Mas sinto que consigo fazer tudo isso de certa forma bem porque os encho de alma e calma. É uma intenção de querer distribuir o amor. E isso só é possível a partir do momento que eu me ame antes de mais nada.

Quando a gente começa a se amar e a acreditar naquilo que faz, as coisas vão naturalmente ficando mais leves. Sou também alguém cheio de neuras, cheio de medos e cheio de defeitos. Aprender a lidar com esses contrastes internos e saber esperar o tempo certo é o que tem me levado a um equilíbrio maior. Acredito que todo mundo tem um grau mais ou menos parecido de inseguranças. Todo mundo se pergunta no fundo no fundo se é amado, se é bom o bastante, se é talentoso em alguma coisa, se merecerá as coisas boas na vida. Todo mundo. Mesmo assim, as pessoas se comportam de forma diferente. Tem gente mais cheia de si, mais falante, que se expõe de forma mais direta. Tem as pessoas quase invisíveis, ouvintes, observadores, fechadas. No meio desses estereótipos estamos nós todos.

A gente está rodado de modelos de sucesso: sigo tanta gente nas redes sociais que fotografa melhor que eu, cozinha melhor que eu, escreve melhor que eu, que é fácil eu me jogar lá em baixo com isso. O que tenho tentado é me encher de admiração. Admirar aquilo, tentar aprender a fazer tão bem, mas do meu próprio jeito. Existe essa sensação que sempre tem alguém colocando em prática uma ideia que eu também tive, mas que eu mesmo não acreditei ser possível colocar em realidade. A verdade é que a grama mais verde é aquela que a gente cuida.

Acreditar na gente mesmo e no nosso potencial é algo que vai levando a gente pra frente. Conversar consigo mesmo, procurar se descobrir. Acreditar nos nossos projetos, ideias. Eles podem falhar, mas se a gente não tenta nunca vai saber se daria certo. Lembrei de uma amiga que visitou o Vale do Silício no ano passado e ouviu lá que se você não tiver vergonha da primeira versão do seu produto é porque lançou tarde demais. A gente vai evoluindo e aprendendo fazendo. Cometi alguns erros fazendo meu primeiro livro, principalmente na forma de envio. Se eu pudesse, faria hoje de outra forma. Mas o livro não teria sido lançado se eu não tivesse insistido em tentar fazer como eu sabia ou achava ser o melhor e o certo. E se algum dia fizer um outro, aprendi com todos os erros o que eu devo e não devo fazer numa próxima. Como dizem, feito é melhor que perfeito. Ter confiança em si nos move. Se eu acredito que posso fazer, vou lá e faço. Se não sei fazer, sinto que posso aprender. Se falhar, compreendo que foi um processo de crescimento e aprendizado.

Projetos dão errado também. É importante aceitar as derrotas e entender que tudo na vida tem um fim. Continuo acreditando que saber que nada dura para sempre é o jeito de amar as pessoas, coisas, lugares e momentos da melhor forma possível. Sabe quando a gente viaja e quer aproveitar cada segundinho porque sabe que talvez nunca mais vai ver aquele lugar de novo? É isso. Se cobrar menos pelos erros, aprender com eles e continuar tentando fazer as coisas é se amar também. Nisso vem o meu maior encantamento pela vida, por uma vida que merece ser muito mais que um trabalho pesado, por uma vida mais leve onde os amores se confundam, onde a gente tenha a certeza que cada fim também é um novo começo.

Um abraço apertado, mais consciente das minhas falhas e acertos,

Gui

 

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  • Obrigada Gui!
    Não comi seus doces nem salgados (ainda), mas leio o que você escreve, vejo suas fotos, as legendas e amo seu livro. Sei ver e entender as falhas nos outros, defendo até se ouvir alguém falando mal, porque afinal de contas, a pessoa não tem direito. Mas nunca aceitar as minhas nem mostrá-las, minha insegurança procura sempre uma versão melhor, um resultado perto do perfeito e aí tudo passa e acabou. E as vezes o que eu preciso, a gente precisa, é parar um pouquinho e ler coisas assim. <3
    Beijos

  • William diz:

    Lindo!

    Por tempos, e até hoje em menor grau, eu me questiono sobre as minhas angustias em ter que determinar algo pro futuro. Algo que tenha nome. Muito disso, se não tudo, vem dessa cobrança louca que a gente se faz.
    Minha mãe sempre me deixou livre para que eu escolhesse qualquer caminho, mas liberdade também angustia né?!
    Uma única coisa eu escolhi, sentir meus sentimentos de forma sincera. É a única coisa certa. É o que a gente tem.
    No mais, o hoje me importa mais do que o amanhã. É no hoje que fazemos, afinal de contas, o amanhã será hoje. Se já não é.
    Em certo grau a angústia é o que nos mantém aqui. Deitados ou voando, aqui.

    Suas cartas <3

    Abraço.

    • gpoulain gpoulain diz:

      ei William!
      todo mundo se questiona né? isso é fato. escolha mesmo os caminhos que te fazem bem e que vão te dando mais confiança pra seguir. um abraço apertado daqui! <3

  • Raquel diz:

    Oie Gui.
    Te acompanho faz tempo, e te admiro cada vez mais.
    Acho que vivemos momentos parecidos. Estou com trinta anos agora, e depois de três estudando para concurso por ser uma advogada frustrada, resolvi fazer o que gosto: doces.
    E eles quase nunca ficam tão perfeitos como eu gostaria, mas sabe? Estou esquentando cada dia menos. E isso não quer dizer que faço de qualquer jeito. Não, não. Vou aprendendo com o que erro, e na próxima geralmente a coisa já fica mais acertada.
    O amor também parece que deu um tempo por aqui. Mas um dia desses ele me encontra.
    Fico torcendo muito para que você seja feliz. Te acho uma pessoa incrível. Sou extremamente grata pelas suas cartas amarelas.
    Um beijo ciber-amigo,
    Raquel

    • gpoulain gpoulain diz:

      ah raquel, a gente fica então na torcida pelos dois, pra mim e pra você. a gente vai se encontrando sim. um bom dia pra você aí!

  • Fernanda diz:

    Nossa Gui, que texto maravilhoso, inspirador, lindo demais!!! São palavras como estas que nos fazem continuar acreditando, em nossos projetos, histórias, etc…Obrigada por compartilhar seu talento e reflexões conosco, vc é incrível! Bjo grande, Fernanda.

  • Vanessa M diz:

    É bem isso mesmo né,Gui.
    A gente nunca se compara com o cara que tá carregando um balde d’água na cabeça,mas sim com aquele conhecido que vai passar o Ano Novo em Nova Iorque com o dólar a 4 reais, e menospreza o aluguel do apartamento que a família fez em Ubatuba.
    A gente inverte os valores e sofre por antecipação por coisas que às vezes nem queríamos ter.

    Beijo!

  • Lola Cirino diz:

    Jeito perfeito de começar o dia. Obrigada, Gui ❤️

  • Gizele Costa diz:

    Bom dia Gui,
    Obrigada por me entender sempre ( acho impressionante isso, aliás, rs). Eu estou me sentindo na famosa “crise dos 30″ e esses pensamentos tem sido recorrentes por aqui, sua doçura ilumina esse tempo nublado viu!
    Você é incrível. Sucesso e luz sempre!

  • etiene diz:

    Eu queria apenas que vc sentisse o tanto que amo vc… suas escritas… suas receitas… sem nunca ter te visto na vida… e sem precisar de ver… amo-te e te desejo um caminho de muita luz!!!!

  • Wlady diz:

    Gui, tenho lido o Moldando Afeto e visto seus vídeos, são incríveis! Você é muito doce, sensível, humilde … Muita felicidade em sua vida!

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